
Fotografias Organizadas, Memórias Preservadas
O podcast que o/a vai ajudar a colocar ordem nas suas fotografias.
O meu nome é Ana Pratas, sou fotógrafa de famílias, Mãe e a criadora da Oficina das Fotografias.
Neste podcast, com uma frequência quinzenal, partilho consigo informação, dicas e ideias para lhe ajudar a transformar o caos das suas fotografias numa colecção organizada, segura e acessível.
Fotografias Organizadas, Memórias Preservadas
24. Uma conversa sobre Privacidade no Online com Patrícia Macedo Alves
Neste episódio converso com a Patrícia Macedo Alves, advogada e especialista em direito digital e protecção de dados.
Falamos sobre a importância da privacidade e proteção de dados online, especialmente sobre os riscos de partilhar fotografias nas redes sociais e em serviços de armazenamento online.
E abordamos tópicos como a utilização dos nossos dados por grandes empresas de tecnologia, a diferença entre serviços com servidores europeus e americanos e o impacto do recente desenvolvimento da inteligência artifical e os riscos que esta tecnologia acrescenta.
É uma conversa muito rica sobre esta problemática da privacidade no online e fundamental para quem se preocupa com este tópico.
Mencionado no episódio:
Datta Privacy - a empresa da Patrícia
Capítulos:
03:01 O percurso da Patrícia
07:03 Os principais desafios
17:19 A diferença entre usar serviços com servidores nos EUA e na Europa
27:44 Como proteger o computador e o que não está na nuvem
29:29 A importância de palavra-passe forte e de ter uma prova de propriedade das contas online
31:52 Sobre a a utlização de conteudo antigo para terino de inteligênci artificial
33:36 O caso dos fotógrafos e outros profissionais da imagem
37:31 Validade e retirada de consentimento
41:29 Micros ligados sem consentimento? Mito?
47:43 O caso da La Liga
48:47 Conselhos para proteger privacidade nos telemóveis
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Viva! Seja bem-vindo ou bem-vindo ao Fotografias Organizadas Memórias Preservadas, podcast que mergulha no mundo da organização e preservação de fotografias nesta era digital e tecnologicamente desafiante. O meu nome é Ana Pratas, sou fotógrafa de famílias, mãe e a criadora da Oficina das Fotografias. E neste podcast partilho consigo informação, dicas e ideias para lhe ajudar a transformar o caos das suas fotografias numa coleção organizada, segura e acessível. Este é um episódio que eu queria fazer há muito tempo. A questão da privacidade no online é algo que me preocupa, quer a nível profissional, como fotógrafa, como organizadora de fotografias, mas também quer a nível pessoal. Assusta-me a falta de controlo que temos quando publicamos no online, quando partilhamos as nossas fotografias. Quem é que verdadeiramente acede, quem é que pode aceder a esse conteúdo, quem é que tem capacidade para isso e para que é que... Como é que as nossas fotografias são usadas. E que riscos corremos quando usamos então as redes sociais para comunicar e partilhar os nossos momentos privados. E a questão aqui não é só as nossas fotografias em que nós próprios aparecemos, são fotografias em que aparecem terceiros. Quem publica pode estar totalmente confortável com esta... Perda de direitos sobre o que publica, mas as outras pessoas que poderão estar nas fotografias ou vídeos podem não estar de acordo e não estarem confortáveis com isso e não quererem de todo as fotografias usadas para outros fins. E agora, com este forte desenvolvimento da inteligência artificial, quais são os perigos, verdadeiramente quais são os perigos. Para que exatamente são usadas as nossas fotografias existem alternativas e se existem quais é que são então para responder a estas e outras questões convidei então uma especialista neste tópico. A Patrícia é advogada, com gosto pela tecnologia e especializou-se então, nesta área da proteção de dados no online. É consultora, tem uma empresa, a Datta, e é então, consultora para várias empresas, então, nesta área do direito digital e proteção de dados. Para além disso, também é diretora de um curso técnico superior sobre esta matéria e faz também imensas formações neste tópico. E por isso é a pessoa ideal para responder a estas minhas dúvidas e questões que acredito também serem as suas. E quero então agradecer à Patrícia por ter aceite de imediato o convite para estar aqui a conversar comigo e também pela sua clareza e pela sua objetividade com que respondeu então às minhas dúvidas. Queria apenas acrescentar que no final da gravação perdemos ali o finalzinho da conversa já em modo... De despedida, mas que em nada afetou o conteúdo, este conteúdo tão importante que foi este episódio. E então, agora, sem mais demoras, aqui segue a nossa conversa e eu espero que goste. Bem-vinda Patrícia, obrigada por estares aqui. Antes de começares então queria que falasses um bocadinho sobre ti, sobre o teu trabalho, o que é que tu fazes para a tua empresa, para nós que temos aqui um background daquilo que é a tua especialidade, o expertise.
Patrícia Macedo Alves:Obrigada antes mais pelo convite. É sempre muito interessante vermos profissionais interessados nestas matérias porque ainda que sejam matérias do dia-a-dia, não é assim tão comum vermos este tipo de preocupações. Felizmente que os há e por isso Também parabenizar-te pela iniciativa. Então, sobre o meu percurso. Eu sou licenciada em Direito, portanto sou advogada. No entanto, desde muito cedo que procurei sempre tive interesse em tecnologia, portanto procurei conciliar aqui aquilo que seria a advocacia num âmbito mais empresarial e mais Tecnológico. E, por essa via, comecei por trabalhar em algumas sociedades de advogados que tinham essa vertente e, entretanto com o surgir com o evoluir da tecnologia, com as big tech cada vez mais integradas numa perspectiva de recolha de dados pessoais, procurei criar a minha própria empresa, que é a Datta, que se foca portanto é uma consultora boutique em matéria de direito digital. E que se foca em prestar consultoria, tanto em matéria de cibersegurança, como de proteção de dados, como também em serviços de encarregado de proteção de dados, que é uma das obrigações que algumas entidades, algumas empresas têm quando recolhem dados de forma massiva. E eu atuo também como encarregada de proteção de dados em algumas dessas empresas. Depois, a par disso, sou diretora de um curso técnico superior em matéria também de segurança e proteção de dados pessoais, para capacitarmos aqui as nossas camadas mais jovens para também estes temas e para integrarem o mercado de uma forma mais prática. E entretanto vou fazendo outras coisas por aí relacionadas com estes temas, nomeadamente em matéria de formação sempre. Porque efetivamente ainda estamos numa fase, em Portugal, de transição digital. Noutros países menos um bocado, mas nós ainda estamos numa fase de transição digital, que não é fácil. Onde há muita resistência à mudança e que portanto a formação é essencial para este caminho de transição consciente para os perigos que a tecnologia traz. Porque efetivamente a tecnologia é uma mais-valia, estamos numa fase em que temos o benefício de termos a tecnologia para nos ajudar e para nos poupar algum tempo em algumas tarefas repetitivas. Mas o que é certo é que sem a consciencialização depois, os perigos da utilização da tecnologia são também imensos e por isso é que é tão importante consciencializar e por isso também é que estamos aqui hoje e por isso é que... É tão importante este tipo de iniciativas, Ana.
Ana Pratas:Sim, se eu própria sou uma pessoa que gosta de saber, de estar informada e que investigo sobre isto e mesmo assim é tudo muito confuso, imagino as pessoas que não são como eu, que não são tão proativas nisto e existe realmente umas camadas, as camadas mais, pessoas mais idosas, mais velhas também que usam imenso isto
Patrícia Macedo Alves:hoje em dia já temos que capacitar tanto as crianças como também os idosos, como também as pessoas que estão no mercado de trabalho. As do mercado de trabalho vão recebendo formação e vão-se percebendo um bocadinho mais sobre isto, ainda que não seja tanto quanto gostaríamos. Mas os idosos e as crianças também são um público-alvo que nós temos que nos preocupar muito porque são pessoas mais vulneráveis e por essa via merecem ainda maior atenção. Tanto até no RGPD, No cumprimento do Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados isso também é mencionado. As categorias vulneráveis de pessoas, de titulares, é que importa protegê-los ainda mais do que todos os outros, porque têm mais dificuldade em aprender este tipo de conhecimento.
Ana Pratas:Exato. Então aqui dentro do âmbito deste episódio é também perceber, é muito para perceber como é as fotografias os nossos vídeos que nós colocamos nos serviços de nuvem... Então, quais são os riscos que nós corremos, quem é acede a essas fotografias, e aqui falamos principalmente no Google Fotos que talvez não é o mais usado, é dos mais usados, e o iCloud, que são os dois gigantes que são mais usados no armazenamento de fotografias e de vídeos. Aqui o que é tu... O que é que tu nos podes dizer? Como colocamos lá essas fotografias esses nossos vídeos da nossa família que são privados, quem é acede? São usados para publicidade ou não? Os termos condições dizem que podemos confiar ou não? O que é que...
Patrícia Macedo Alves:Ora bem, não sou eu que vou ousar dizer que não podemos confiar, mas a primeira das questões é, nós efetivamente lemos o que está nos termos e condições na política de privacidade? Esse é um dos primeiros desafios que nós temos no online, não é? A verdade é que grande parte das pessoas não lê e, portanto não percebe nem sequer... Consegue compreender porque não leu e depois muitas vezes não percebe porque são políticas difíceis de compreender, que não são assim tão transparentes quanto se gostaria. Eu costumo dizer que estão em legalês e o legalês é muito interessante para proteger as empresas, mas pouco interessante para nós utilizadores compreendermos. Já há empresas que conseguem ter o legalês e depois explicar por palavras mais simples o que é que fazem com os nossos dados, mas o que é certo é que a maior parte das pessoas aceita sem ler e essa é uma das principais preocupações que eu acho que qualquer utilizador tem que ter. O primeiro e o mais difícil dos desafios e a maior das preocupações que eu entendo que um utilizador comum tem que ter está relacionada com o facto de nós frequentemente nós como também sou utilizadora, frequentemente nos preocuparmos menos com a nossa privacidade e com a proteção dos nossos dados, se aquilo que nós obtivermos o ganho que nós obtivermos disso seja não pagarmos uma subscrição. E portanto este é o principal dos desafios que nós vemos existir. Quase todas as pessoas utilizam cloud providers gratuitos e quando estamos a utilizar um cloud provider gratuito, ou seja, uma empresa que nos dá um serviço de armazenamento onde nós guardamos os nossos dados, as nossas fotos, etc. Quando é gratuito, normalmente, e o Edward Snowden já diz isto há algum tempo, normalmente o produto somos nós. E, portanto sendo que somos nós o produto, o que é vai acontecer? E, efetivamente, em grande parte destes prestadores de serviços, destes softwares, o que vai acontecer é que vai haver uma análise dos dados. Vai haver pelo menos uma alocação destes dados a um servidor que não está no espaço económico europeu e, assim, de forma muito simples, o que acontece quando nós temos os dados a serem armazenados fora do espaço económico europeu nós não temos a mesma legislação que temos no espaço económico europeu aplicar-se fora do espaço económico europeu. E se fôssemos uma empresa, tínhamos obrigações em matéria de RGPD. Mas como nós somos particulares quando utilizamos estes serviços, até podemos utilizar, mas estamos a prejudicar a nossa a nossa privacidade, porque essas empresas que estão fora do espaço económico europeu não terão de cumprir na mesma medida que as empresas cá no espaço económico europeu, e se já cá é difícil cumprir, imagine-se garantir que conseguimos que outras empresas que estão fora do espaço económico europeu quando vêm prestar serviços e oferecer Serviços cá no espaço económico europeu, cumpram. E esta questão do envio dos dados para, por exemplo servidores nos Estados Unidos ou em países em que o armazenamento é mais barato, faz com que depois estes países, como têm políticas de vigilância massiva. Por exemplo nos Estados Unidos, tem uma política, as agências de segurança norte-americanas, têm uma política diferente, uma política que nós não aplicamos cá e, portanto quando estamos a enviar os dados para, por exemplo para os Estados Unidos, o que vai acontecer é que esses dados estão a ser analisados pelo menos por questões da segurança nacional. E depois temos ainda a simples questão de se está dentro dos termos e condições, se o serviço quer prestar de forma gratuita prevê que sejam utilizados os dados para fins publicitários, como acontece com a Google, como acontece com a Meta e, estamos agora em cima precisamente de uma questão muito ativa sobre a utilização da inteligência artificial e sobre podermos ou não opormos a utilização dos nossos dados que já estão públicos nas redes sociais para a meta depois treinar a inteligência artificial. Este é um dos temas quentes da semana, não é diferente aqui, estas empresas o que fazem é com a informação que nós vamos trocando, sejam as fotografias que nós vamos colocando nestas drives, sejam até, por exemplo a troca de e-mails que nós fazemos pelo nosso Gmail, o que vai acontecer é que estas Estas plataformas, estas empresas vão aprendendo sobre nós, vão criando um perfil sobre nós e depois vão treinando tanto a inteligência artificial como depois vão também utilizando para melhoria dos seus serviços, mas também para fins publicitários aquilo que nós lá colocamos e portanto nós temos uma aparente privacidade porque só nós é que temos acesso ao email e à password e, até isso é um problema. Mas depois o que é facto é que esse serviço que é pretensamente gratuito não está a ser cumpridor das melhores práticas em matéria de proteção de dados pessoais e portanto nós temos esse perigo o perigo de estar tudo a ser analisado, de estar a haver aprendizagem. Agora ainda por cima com a inteligência artificial, haver aprendizagem sobre tudo aquilo que nós colocamos lá e a inteligência artificial consegue aprender e criar... Interações e criar conclusões sobre os nossos hábitos sobretudo aquilo que a fotografia nos possa dizer, sem que as pessoas tenham consciência disso. E portanto temos que fazer alguma coisa sobre isto temos que perceber pelo menos que isto está a acontecer e se as pessoas sabendo que isto está a acontecer não se importarem, tudo bem. Mas quando são profissionais a trabalhar nesta área. Quando somos nós, enquanto profissionais a utilizar este tipo de serviços, temos que ter alguma consciência adicional. Se nós temos na nossa empresa um software para alocar documentos devemos usar esse software que é pago e que tenha características adicionais de segurança, em vez de utilizarmos a nossa cloud para guardar documentos. Portanto, isto quando estamos a falar do profissional, claro que no pessoal. O ideal é subscrevermos um serviço que esteja no espaço económico europeu. Há alguns sites para este efeito que resultam muito bem. Eu pessoalmente costumo aconselhar um site que é o European Alternatives, para qualquer software que nós utilizamos, nós vamos lá ver e dá-nos alguns exemplos de softwares que funcionam bem e que fazem a mesma coisa que aqueles que nós estamos a utilizar, que são gratuitos mas que estão noutros países fora do espaço económico europeu, ou então subscrevemos um, vamos efetivamente analisar que subscrevemos um serviço como fazemos com o Netflix, não é? Subscrevemos um serviço de armazenamento que tem a garantia de que os dados estão a ser armazenados pelo menos quando estão parados em trânsito é mais difícil, mas quando estão parados sejam sempre armazenados no espaço económico europeu e onde não haja esta efetiva análise de dados para fins publicitários e para treino de inteligência artificial.
Ana Pratas:essa questão de ser uma subscrição paga ou não nem sempre é relevante para esse efeito. Por
Patrícia Macedo Alves:Nem sempre.
Ana Pratas:o Google, podemos estar a pagar a mesma e o tratamento de dados é exatamente o mesmo que estejamos a pagar ou não. Sim. E isso, na prática, lá está, eu acho que é importante termos essa informação, cada um de nós ter essa informação e decidir o que fazer com ela, decidir utilizar determinados serviços com essa informação e aí decidir, mas na prática isto é... No limite ou seja, as empresas conseguem aceder aos nossos dados, às nossas fotografias aos nossos vídeos, se quiserem, ou seja, têm essa capacidade, a não ser que esteja encriptado ponto a ponto, o não é o caso dos mais comuns, não é? do Google Fotos por exemplo hum... Num caso limite o que é pode acontecer? Quer dizer, eles podem receber uma, a Google pode receber uma ordem judicial qualquer e automaticamente vêm o nosso conteúdo, isso na prática pode acontecer ou não é bem assim? Na Europa isso não acontece?
Patrícia Macedo Alves:é relativo, o que acontece, acontece, continua a acontecer, seja Facebook, seja Instagram, seja WhatsApp, seja Google Photos, quando temos algum tipo de pedido que adventa processo judicial, os operadores têm o ónus de divulgar e de conceder o acesso a essas plataformas, portanto, isso vai acontecer.
Ana Pratas:Mesmo na Europa, mesmo na
Patrícia Macedo Alves:em proteção de dados concorda 100% com essa prática, nem sempre, nem sempre. Acho que nem sempre os fins justificam os meios. É um bocadinho como nos Estados Unidos, não se justifica estarmos a fazer vigilância massiva a toda a gente apenas Apenas que não é um apenas, mas por questões de segurança nacional. Mas também compreendo o alcance, considerando que a legislação lá é um bocadinho diferente. Agora, nós cá temos situações disso, temos vários pedidos de acesso a Por exemplo, o mais comum é o Facebook e o Instagram para efeitos de obtenção de prova num processo judicial e, portanto isso acontecendo, claro que é um risco que se corre, mas não é tanto esse, não parece que seja tanto esse o problema.
Ana Pratas:a perceber é a diferença entre o tipo de acesso que as nossas fotografias podem ter estando na Europa ou estando nos Estados Unidos.
Patrícia Macedo Alves:nos Estados Unidos, sem qualquer tipo de análise ou de potencial, podermos potencialmente estar a cometer um crime ou não, Nos Estados Unidos há sempre esse tracing, há uma análise em tempo real de todas as comunicações que nós vamos estabelecendo e depois eles têm tipo tags, têm temas concretos, coisas que nós dizemos nas nossas comunicações ou que possam aparecer em fotografias, que estão desde logo, o sistema está desde logo a lançar alertas e nós estamos a ser auditados e há mesmo pessoas a analisar, sempre que há um alerta, àquilo que nós estamos a conversar. Aqui não é assim, aqui é no caso de haver uma investigação pode ser pedido. Não, também pode ser pedido que seja divulgada alguma conversa que foi iniciada por um IP XPTO ou para se validar se quem fez o comentário nas redes sociais foi aquele IP e quem é, se conseguimos chegar àquele IP. E podemos ter eventualmente um acesso a uma cloud por causa disso, mas não é muito comum. Não é muito comum porque é duvidoso se depois vai ser válido como prova e, portanto em tribunal depois pode ser uma prova mais frágil, mas ainda assim há uma outra situação em que há um pedido desse género. Mas não é tanto por aí. Fora espaço económico europeu garantidamente, e esta é a principal preocupação. Nós usamos softwares gratuitos. Está a ser monitorizado em tempo real aquilo que nós colocamos, está a ser utilizado para treinar, os sistemas estão a ser treinados com base naquilo que nós alimentamos. Cada vez mais as empresas sabem sobre nós, informação que às vezes nem nós temos consciência. Eu até costumo sugerir às pessoas para fazerem a simples pergunta ao ChartGPT sobre quem são, para eles perceberem o que é que o ChartGPT já sabe sobre eles, que às vezes até nós já não nos lembramos. Coisas que fizemos e que estão no online. E também é muito útil para percebermos a nossa pegada digital, porque nós esquecemos que no meio disto tudo nós temos uma pegada digital e nunca mais apagamos essa pegada. Uma vez na internet, fica lá.
Ana Pratas:Por acaso nunca fiz essa experiência.
Patrícia Macedo Alves:É muito interessante, eu já não me lembrava de certas coisas que tinha feito durante o meu percurso académico e a ChatGPT fez-me questão de lembrar, porque nós nunca apagamos aquilo que vamos produzindo ao longo dos anos como pegada digital. Ninguém se lembra disso e parte desta pegada digital também está alocada aqui a estes softwares gratuitos que não têm qualquer tipo de... o objetivo destes softwares é... Conseguir aprender o máximo sobre os seus utilizadores se não for mais para vender produtos mais orientados ao seu mercado. E se os utilizadores estiverem ok com isso, tudo muito bem. O problema é que nas fotografias sobretudo, Ana, nós não temos só fotografias nossas.
Ana Pratas:Exatamente, é um
Patrícia Macedo Alves:só nossa, temos fotografias que têm terceiros presentes e esses
Ana Pratas:Nem que sejam os nossos filhos. Nem que sejam os próprios filhos Nossos filhos não é? Que não
Patrícia Macedo Alves:vamos falar disso, se formos falar de menores ainda mais, não é?
Ana Pratas:onde que existe toda aí uma... Mas lá está, é uma comodidade tal, este tipo de serviços que não... Que nem sequer já, é quase impensável não os usar, não é? E...
Patrícia Macedo Alves:Já faz tão parte do nosso quotidiano e daquilo que nós temos como sendo de base admitido e admissível que nem pensamos sobre isso. Mas há soluções gratuitas também. Que são mais privacy friendly. Eu dou-te um exemplo, por exemplo o Proton, que tanto serve como e-mail como também como cloud, tem ponderadores relativos à proteção de dados e à privacidade e assegura-nos de uma forma um bocadinho diferente aquilo que estas plataformas neste momento não nos asseguram. A Apple também já tem um compromisso com as questões de proteção de dados, tem o seu centro de privacidade, onde nós vamos podendo gerir como queremos as definições do nosso telemóvel e da nossa cloud, para também proteger aqui um bocadinho mais a informação. E portanto já temos algumas empresas com algumas preocupações e com alguns add-ons que nos permitem gerir melhor a nossa privacidade, mas as aplicações tendencialmente gratuitas, essas dificilmente o fazem porque a sua versão free vem com a condição de saberem e aprenderem com os nossos dados.
Ana Pratas:Há aqui diferentes coisas que eu acho que também entre a Apple Photos e o Google Photos que podemos falar, que é essa questão, o iPhone tem a opção no iCloud de nós ativarmos a proteção avançada de privacidade, não sei exatamente se é assim que se chama, quer dizer que a partir desse momento... Todo o conteúdo é encriptado ponto a ponto, nem a própria Apple em princípio poderá aceder, é isso?
Patrícia Macedo Alves:O "em princípio" é sempre uma boa expressão de se utilizar, não
Ana Pratas:que eles dizem que nem a própria Apple pode aceder, consegue aceder mas não sei se realmente isso é assim na realidade ou
Patrícia Macedo Alves:Sim, em princípio, porque eu não trabalho na Apple, também não tenho que conferir, em princípio nós temos que ter uma cadeia de confiança não é? Senão não sobrevivemos ao online e, portanto, nós partindo dessa cadeia de confiança temos que estabelecer quais são as partes da cadeia que nós vamos decidir confiar para ter os nossos dados, ter as nossas fotos, etc. O que é facto é que a Apple nos últimos anos tem procurado Delinear uma estratégia no sentido de também ter mais configurações de privacidade e se nós as ativarmos estamos mais protegidos. Claro que a interconexão ponto a ponto nas comunicações também é importante. No que diz respeito aos servidores cloud, o normal não é que essas empresas vejam aquilo, as fotografias que nós lá estamos a colocar, portanto isso não é o normal. O que depois acontece é que quando elas vão ser colocadas numa cloud, poderá haver algum tipo de serviço de inteligência que vá depois monitorizar isso e depois poderá haver serviços que sim, fazem essa análise e esses deixam claro nos termos condições que, normalmente, Que vão fazer. E se forem ver aos termos condições da Google, vocês vão ver que isso acontece. Por exemplo um exemplo típico de uma plataforma que utilizamos todos os dias para partilhar imagens mas também para comunicar, que é o Whatsapp. As pessoas, se forem validar nos termos e condições e nas políticas, verificam que há uma encriptação ponto a ponto, e isto é verdade. O problema é que os metadados que decorrem das comunicações são sempre acessíveis pela meta e depois, por outro lado, a cópia de segurança não está encriptada. E, portanto, se nós nas comunicações até temos a comunicação encriptada ponto a ponto, mas depois a cópia de segurança não está encriptada, e é sempre possível um acesso. Portanto, não há uma efetiva perspectiva de segurança também aí. Claro que um utilizador comum não vai compreender alguns destes aspectos. Mas se perceber que há ferramentas mais seguras, se nós formos trabalhando esta forma de comunicação, em que criamos essa awareness, se calhar as pessoas começam a alterar em vez de usar um WhatsApp, utilizam um Signal. Em vez de usar um Google Cloud utilizam, se forem da Apple, se não forem da Apple também podem utilizar. Ou então utilizam o Proton que é gratuito, uma versão gratuita perfeitamente execuível ao nível da Google e que garante a privacidade de uma forma um bocadinho mais aumentada face àquilo que nós vamos vendo nos players habituais. Meta, Google são, efetivamente, os mais difíceis de
Ana Pratas:Outra pequena característica que acho que tem uma diferença entre estas duas, a questão do reconhecimento facial nas fotografias. Mas os rostos, a identificação dos rostos por exemplo no Google Fotos todo esse processo é feito online, na própria plataforma ou no próprio servidor. Enquanto que no Apple Photos isso não é feito no iCloud, é feito no próprio dispositivo e essa informação, lá está, acho eu que não sai, não é, até porque os rostos se eu tiver essa identificação de rostos na minha aplicação do Mac... E no iPhone, podem não coincidir porque eles estão a fazer o processo separadamente,
Patrícia Macedo Alves:isso é uma boa forma de validar que não está a haver integração
Ana Pratas:é um pequeno pormenor que para nós percebemos qual é um bocadinho a diferença entre o que é que queres ter ter tudo ali numa plataforma online e todo o processamento ser lá. E acho que a Apple Photos nos oferece um bocadinho mais de controlo sobre isso. Mas eu, por acaso, já investiguei algumas alternativas mesmo ao Apple Photos e já existo algumas muito, muito interessantes. Até existe, não sei se conheces o Ente, Ente Photos. É americana, mas é uma plataforma de fotografias como o Apple Photos, mas é também encriptada, mas com servidores na Europa também. E existe uma outra também, que tem um nome muito estranho também, que é o ZEIT Capsule, também muito estranho, é também uma empresa europeia para fotografias, também encriptada ponto a ponto, ou seja já começa a haver algumas opções
Patrícia Macedo Alves:Sim.
Ana Pratas:Interessantes, que ainda não têm longevidade que têm as outras, mas que começam a ser alternativas e também existe agora, não sei se tens se tens deparado também com essa necessidade, de muitas pessoas também quererem fazer um boicote de tudo o que seja americano e portanto isto também ajuda ajuda um pouco
Patrícia Macedo Alves:nós que trabalhamos em proteção de dados é útil, é útil este burburinho Trump, que gostamos de
Ana Pratas:Pronto exatamente. Não só pelo panorama político fazer esse boicote, mas também porque nos Estados Unidos já começamos a perceber que a privacidade não é tão privilegiada como aqui na Europa.
Patrícia Macedo Alves:Vamos mais longe, vamos a coisas, eu acho que nisto da proteção de dados e nas fotografias e na gestão de fotografias não só as empresas que escolhemos para depois trabalhar as imagens como coisas essenciais que nós utilizadores ainda não temos presente são importantes. Imagina, é importante nós termos o disco do nosso computador encriptado. Ainda vemos muita gente sem, apesar de vir de base nos computadores, hoje em dia a opção por exemplo nos Mac do FireVault, no Windows, a opção do Windows de encriptar o disco, não é feito. O que é que faz, como é que nós desprotegemos aqui também as nossas informações? Se perdermos computador, alguém vai aceder ao disco e consegue aceder às fotografias mesmo que não estejam numa cloud. Portanto nós temos várias, várias ações que são mais comportamentais. Mesmo a este nível, nós vimos que os utilizadores ainda não têm. O
Ana Pratas:Eu própria, estás-me a dizer isso? Realmente nunca fiz isso, nunca pensei nisso. Estou muito preocupada com a questão do online
Patrícia Macedo Alves:É, mas é, porque nós também temos isso armazenado certamente em pens, ainda temos armazenado em pens e em CDs e em discos e também temos que nos preocupar com essas ferramentas com aquilo que nós chamamos o legacy, aquilo que nós já usamos anteriormente e que está lá. Mas também temos no nosso computador depois, a maior parte das pessoas ainda guarda tudo no computador como redundância e depois esquecemos-nos de proteger o computador, não só a cloud porque outros estão a ver, mas também o computador porque outros podem aceder. Portanto, o disco encriptado é muito importante. Depois também é muito importante nós termos uma boa palavra-passe, tanto no telemóvel como nessas aplicações. Uma coisa que acontece muito nestas aplicações gratuitas é nós perdermos depois o acesso à conta, somos haqueados porque entramos num wi-fi menos seguro e, como a conta não é paga, nós não temos forma de comprovar que a conta é nossa Ok. E depois perdemos porque alguém entrou na conta e mudou a password ou acesso a essa conta gratuita e perdemos o acesso a tudo o que nós tínhamos.
Ana Pratas:Exatamente, sim, existe essa política existe existindo alguma, pelo que eu entendi, alguma suspeita de que a nossa conta está a ser usada para causar danos Adeus
Patrícia Macedo Alves:ficam sem a conta porque é política e não há hipótese.
Ana Pratas:Não há
Patrícia Macedo Alves:outra situação. Ainda há a situação de tu teres tua conta, seja de Instagram, de Facebook, profissional, sejam as tuas contas de cloud onde tu estás a armazenar as fotografias ou onde tu estás a tratar as fotografias nos softwares em que estás a tratar as fotografias, e os softwares sendo gratuitos tu tens um e-mail e uma password. Não tens, como não pagas o serviço, não tens um comprovativo de ownership daquilo. Então, quando temos uma password frágil e depois entramos, porque isto também é muito comum e também não devemos fazer, entrar em Wi-Fi nos cafés nos aeroportos... Nos shoppings. Essas redes não estão configuradas de forma segura e pode haver gente a tentar entrar nas redes e há gente que se dedica só a isso e depois haqueia a tua conta e ele te pede um resgate e tu tens que pagar. Ou então tu não tens forma de ir recuperar a conta porque a conta era gratuita, tu não tens nada que comprove que tu eras o dono. Tu comprovas que és o dono porque tens uma password e um e-mail associado. Se alguém te altera isso porque entrou na tua própria conta, tu perdes acesso às tuas fotografias de anos e anos que tiveste. A mesma coisa se, por exemplo a empresa deixar de operar no mercado. Lembro-me, ainda temos a Dropbox, ainda está aí e infelizmente sobrevive. Mas pode haver aplicações deste género onde nós tínhamos armazenados os nossos dados e as nossas fotos que deixem de operar no mercado. Porque estão no seu direito e, normalmente embora elas avisem, se isto acontecer nós deixamos poder ter as fotografias armazenadas nesses servidores. Temos que recuperá-las e depois há uma coisa muito importante que tem a ver com os nossos direitos em matéria de proteção de dados que também pouca gente sabe e
aproveitando aqui o boom desta semana:Ok, nós temos as nossas publicações, que estão visíveis ao público, vão passar a ser utilizadas pela inteligência artificial, já eram, mas enfim. Agora, há um discurso de que tudo vai passar a ser utilizado. E o que está para trás? Os utilizadores vão ter que reagir. Vão ter que exercer o direito de oposição. É um direito, nós temos o direito de não querer que tudo o que publicamos, que não sabíamos que podia ser um dia utilizado para treino de um sistema de inteligência artificial, Seja agora utilizado.
Ana Pratas:Eliminando esse conteúdo, se calhar já não...
Patrícia Macedo Alves:Pois, isso não consigo confirmar, mas diria que não, porque já está na base de dados e apesar de nós eliminarmos, isso vai acontecer. O que está a ser sugerido é que seja preenchido um formulário, mas esse formulário também não vai... Responder àquelas que são as necessidades de quem não quer que haja treino. O que tem que ser feito tem que ser mesmo o direito de oposição no âmbito do RGPD e o direito a não ser sujeito a decisões individuais automatizadas. E as fotografias têm um papel muito importante nisto. Nós temos muita fotografia temos muitas fotografias com terceiros, volto a falar sobre isso. Nós não nos preocupamos, mas uma coisa é o que nós fazemos com as nossas fotografias outra coisa é o que nós fazemos com fotografias das pessoas que nós conhecemos e que publicamos e que, se calhar, estão a exercer este direito e não querem isto, mas vocês no vosso perfil estão a fazê-lo. Depois se tivermos uma página de negócio ou simplesmente onde nós temos o nosso portfólio fotográfico e tivermos fotografias com outras pessoas, também estamos aqui a ter uma responsabilidade do que estamos a publicar online e aí vem a questão dos direitos que é a questão mais chata: temos autorização?, temos consentimento das pessoas que lá estão para ter as fotografias?
Ana Pratas:Mesmo que nós tenhamos... Eu sou fotógrafa também, não é? E... Mesmo tendo autorização dos clientes de publicar, será que neste momento, sabem o que é que isso implica não
Patrícia Macedo Alves:Saber, dificilmente saberá.
Ana Pratas:é até que depois também esse consentimento é válido, porque falta muita informação e muito...
Patrícia Macedo Alves:Numa fase, vamos ter duas respostas a isso, parece-me, nesta fase, inicialmente o consentimento seria suficiente. No entanto, o que acontece enquanto profissional, que aqui já estamos a falar de uma esfera mais profissional, imagina tu, Ana, não informaste os teus clientes que as fotografias que tiraste podiam ser utilizadas para treinar sistemas de inteligência artificial, mesmo não sendo os teus, seriam terceiros. E portanto é que vai acontecer agora e o teu consentimento não teria nunca esta referência e por isso não seria válido seria necessário obter novamente esse consentimento. A questão é que nós normalmente, nem isso acautelamos, depois temos a questão dos menores. Além das pessoas que são maiores de idade e que dão consentimento, temos os menores cujo consentimento tem que ser obtido pelos responsáveis parentais, pelos pais, em princípio, podem ser avós mas em princípio pelos pais. E aí também temos que obter o consentimento e quem é que se preocupa com isto? Quem é que está nas redes sociais a publicar fotografias preocupado com isto? E agora com o treino da inteligência artificial, que já havia mas ninguém se preocupava e agora está-se a preocupar e pronto, vamos aproveitar. Como é nós vamos tratar isto? Temos fotografias de menores o que é que vamos fazer?
Ana Pratas:Sim sim o quê? Sim.
Patrícia Macedo Alves:Há alguns vídeos muito interessantes sobre isto. Já é possível com a inteligência artificial pegar uma fotografia de uma criança e fazer uma análise de como aquela criança vai ser daqui a 10 anos e usar, pegar na voz e trabalhar a voz como vai ser daqui a alguns anos e criar uma identidade daquele menor daqui a 5 ou 10 anos.
Ana Pratas:Isso é uma coisa que me assusta imenso. Eu, a minha página de fotografia, do "Ana Pratas Fotografia" como fotógrafa, eu já não publico uma fotografia há imenso tempo. Há mais de um ano, já não faço uma publicação no Instagram e por várias razões. E uma delas é essa, foi este advento de... Desenvolvimento de inteligência artificial que me assustou um bocadinho, deixa-me parar aqui um bocadinho e perceber o que é que as fotografias que eu coloco das famílias que eu fotografo. Tentar perceber o que é se passa aqui, o que é que elas podem ser usadas para depois tentar esclarecer também melhor os clientes e perceber isso. Assim, fui também ali uma defesa da minha parte nesse aspecto e realmente a minha conta de Instagram de fotografia tem estado parada. Uma das razões é essa, porque isto assusta-me se a mim me assusta um bocadinho, não sei se também às vezes é um bocado paranoia ou não, mas eu
Patrícia Macedo Alves:Alguns dirão que sim, outros dirão que não, outros dirão que é awareness, não
Ana Pratas:eu comecei a ver a falta de informação muitas vezes, né,
Patrícia Macedo Alves:mas todos os receios que a Ana referiu são receios reais, são coisas que acontecem. A maior parte das pessoas não está muito importada com isso, a maior parte das pessoas responde-nos que não tem nada a esconder, mas não é bem uma questão de esconder, para começar, e depois não são só as imagens dele, são as imagens das outras pessoas.
Ana Pratas:em que as pessoas aparecem , sim.
Patrícia Macedo Alves:Nós estamos num evento público, estamos a ser fotografados estamos num evento privado, estamos a ser fotografados, estamos num evento em que não está a ser fotografado mas temos sempre um pai, uma mãe, alguém fazer um vídeo. Estamos num hospital, pode haver um vídeo no hospital. O que eu acho é que a relevância que damos ao digital e ao online e à nossa presença tanto num como noutro e àquilo, aos conteúdos que criamos para fins domésticos, não têm ainda, as pessoas que o fazem, não têm ainda a consciência de perceber que além daquilo que é a esfera de responsabilidade dos seus dados, há a esfera de responsabilidade dos dados dos outros, que pode não ter, os outros podem não ter a mesma opinião do que nós. E se nós podemos achar que não temos nada a esconder, os outros podem achar Que tem ou simplesmente que não tem. E quando as pessoas filmam e fotografam e publicam, sem perceberem que pode estar a ser outra pessoa, os direitos de outra pessoa podem estar a serem utilizados para fins de publicitários ou o que for, é muito complicado. E por mais consentimentos que nós tenhamos... Seguramente que os consentimentos que foram obtidos há dois anos não pensavam nesta realidade do treino de Inteligência Artificial, ok? Seguramente que não pensavam, pensavam sim nos direitos de imagem e que tu utilizes no teu portfólio as imagens ou então pensavam, nós particulares nem sequer a publicar nem sequer pensamos sobre isto, não é? Mas depois, se alguém vier pedir um apagamento dessa informação, nós estamos preparados para responder, para saber onde é temos as imagens daquela pessoa? Não estamos.
Ana Pratas:Sim, porque a partir do momento, agora falando como fotógrafa profissional, eu tenho consciência que os clientes me dão o consentimento para publicar para fins publicitários e para divulgar, mas eu sei que a partir do momento em que recebo um e-mail ou qualquer coisa a dizer "eu não quero mais as minhas fotografias", eu tenho, a partir daí já não posso, apesar de que as que já foram publicadas...
Patrícia Macedo Alves:Se as queres ir a pagar
Ana Pratas:Mas irei pegar, sim, mas é relativamente fácil, mas tenho essa noção de que, apesar de ter um papel assinado, a partir do momento em que eu recebo qualquer notificação de que tenho esse cliente já não quer mais essas fotografias online, ou seja onde for, tenho que as recolher.
Patrícia Macedo Alves:o consentimento pode ser retirado a todo o tempo, é uma das características e, portanto, nós, além de só devermos, só podemos recolher o consentimento e ele só ser válido consoante as interpretações jurídicas seis meses a dois anos, depois tem que ser revalidado ok? Depois podemos ter sempre a pessoa que se opõe à continuidade, deu o consentimento, mas agora já não quer e nós temos que apagar a sua pegada digital em todas as plataformas onde a tínhamos, no nosso website, nas nossas redes sociais, nas nossas clouds, em todo o lado.
Ana Pratas:E que fosse assim tão fácil quando estamos a lidar com outras empresas mais...
Patrícia Macedo Alves:Em teoria em teoria no espaço económico europeu os direitos existem e são garantidos. Às vezes, é difícil conseguirmos chegar a todas as empresas que tenham os nossos dados para pedirmos esse apagamento, mas também já há uns softwares interessantes para isso, umas empresas interessantes para procurarem a nossa pegada digital e irem às empresas pedir esse apagamento, é uma prestação de um serviço. Procuram tudo aquilo que é que nós temos como pegada digital e depois vão empresa a empresa pedir o apagamento, que também é muito interessante. Fazem por nós. não temos tempo, eles fazem por nós.
Ana Pratas:Estou a dizer, esta questão da meta e isso, que fosse assim tão fácil é...
Patrícia Macedo Alves:as redes sociais, big techs é sempre muito complicado, sempre muito complicado.
Ana Pratas:Queria perguntar mais uma questão relativamente àquele mito se é mito ou não, aquela questão de nós estarmos a conversar sobre qualquer tema ou a trocar mensagens sobre qualquer tema e logo a seguir nos aparece publicidade sobre esse tema. Dá a perceber o que é que, se isso é real ou não, se é coincidência, se é...
Patrícia Macedo Alves:Pode ser mito pode não ser mito. Depende, não é? Depende. O advogado gosta muito de usar o depende para significar. Sobretudo, há sobretudo duas situações e parece-me a mim que noventa por cento dos casos o que nós achamos não é o que está a acontecer. Noventa por cento dos casos o que acontece tem a ver com a análise de cookies, que não tínhamos previsto se calhar falar sobre cookies, mas é uma realidade que importa muito. Nós, quando estamos a navegar na internet e não estamos a navegar com browsers que são mais privacy friendly, ou quando não estamos a navegar em anónimo e, mesmo quando navegamos em anónimo isto não é 100% fidedigno, estão a ser armazenados no nosso computador, no nosso telemóvel, no dispositivo que estejamos a utilizar, pequenos ficheiros informativos que dizem, que armazenam as nossas preferências de navegação. Em que sites andamos, que conteúdos preferimos, e portanto tendencialmente o que é que acontece? O que acontece é que quando nós estamos a navegar, imaginem, nós estamos no mesmo espaço hoje. Se nós estamos triangulados na mesma rede ou no mesmo router, o que vai acontecer é que vai haver, pronto, isto de uma forma mesmo muito, muito simples, vai haver um conhecimento de que nós estivemos no mesmo espaço, na mesma triangulação e se tu pesquisaste sobre qualquer coisa nessa hora ou nos momentos seguintes, o algoritmo vai perceber se nós estivemos no mesmo espaço, é provável que eu e tu tínhamos o mesmo interesse, então vai-me sugerir a mim que estive contigo naquele espaço ou que sou tua amiga, aquele conteúdo que tu foste ver. Não é tanto o micro, não quero dizer que não haja situações em que efetivamente nós tínhamos um micro ativo e que esteja a ser ouvido alguma coisa. Aliás, a Apple teve, o ano passado, há dois anos, houve uma notícia até da Apple que apregoa aqui as questões da segurança e até foi por isso que eles também começaram a trabalhar mais ativamente nestas questões. Em que houve, portanto quando nós ativávamos uma feature da Apple, e durante um micro segundo o nosso áudio era, sem o nosso consentimento, ativado e conseguiam ouvir o que estava a acontecer. Era, segundo eles, um erro, que depois foi corrigido. Mas aconteceu. Portanto não quero dizer que não aconteça. Tendencialmente, ou nós demos permissão para o áudio ficar ativo e as empresas estão a aprender com o áudio sem nós sabermos ou, então, há apps que nós instalamos, e por isso é que é muito importante nós termos atenção às apps que instalamos e à origem das apps e a garantia que são apps fidedignas, porque ainda há muitas apps, apesar de terem de cumprir o RGPD, as empresas que as criam, que não se preocupam com estas questões e não pedem consentimento para terem o áudio, divulgado. Então, não pedindo consentimento para ter o áudio, ele está ativo por defeito e efetivamente aí vendo essa leitura pois vai haver um conteúdo que vai sendo adaptado e que vos vai sendo sugerido. Mas por norma não, por norma é simplesmente isto, nós estivemos juntos ou somos amigos, tu pesquisaste qualquer coisa, o algoritmo diz à empresa que eu falo contigo todos os dias, se tu tens interesse nisto há uma forte probabilidade de eu também ter interesse nisso. Então vai-me sugerir para me testar. E é assim que o algoritmo vai gerindo e vai experimentando.
Ana Pratas:O que eu vejo que acontece, acho eu, não sei, é às vezes as trocas de mensagens também, seja por Messenger, seja por WhatsApp, podem falar sobre determinado tópico isso já é possível, e depois aparecer publicidade,
Patrícia Macedo Alves:eles
Ana Pratas:WhatsApp sendo encriptado...
Patrícia Macedo Alves:As empresas dizem que não, mas é possível, nem que seja por lá, se as comunicações são encriptadas ponto a ponto não devia ser possível. Mas o que é facto é que acontece, e é por isso que quando vamos fazer uma análise mais aprofundada das principais aplicações de comunicação, o que nós percebemos é que pode haver encriptação ponto a ponto, mas depois por via de análise de metadados, que são os dados sobre os dados, ou então por via de análise, depois dos backups que não estão encriptados, há uma forma de chegar às comunicações, ou pelo menos a parte do teor das comunicações, que permite depois perceber as preferências dos seus utilizadores e, portanto,
Ana Pratas:Não é 100% mito que isso pode acontecer.
Patrícia Macedo Alves:Pode acontecer, pode acontecer. Grande parte das vezes em que acontece não é porque tínhamos o áudio ativo, mas é antes porque temos cookies e porque não limpamos os cookies e porque estamos configurados estamos em rede e temos algoritmos e os algoritmos vão aprendendo. E depois há todo um trabalho dos softwares por trás, que depois vão permitindo estas triangulações e que vão criando estas sugestões para vermos o que é nós gostamos. Mas há situações em que isso é porque nós temos isso ativo. Portanto o é que eu recomendo? Eu recomendo que façam um cheque de X em X tempo das aplicações, irem às definições e verem se... Em que aplicações é que o áudio está ativo. No caso dos iPhones e penso que os Androids também, agora também já é obrigatório ter, quando está a ser gravado o áudio ter um sinal dizer que o áudio está a ser gravado. Mas bem sabemos que há aplicações que vão para o mercado e que estão na Google Store e na Play Store, por isso é que também às vezes é mais difícil desenvolver um produto, tem que cumprir uma série de requisitos, mas às vezes não é validado e o produto está no mercado e como num país pode não ter de cumprir a legislação X, ele vai para o mercado e não está a salvaguardar estas questões da proteção de dados pessoais, do pedir consentimento para que o áudio esteja disponível. E ele fica disponível. Nós tivemos uma coima, quando o RGPD entrou em vigor, à La Liga, que é um bocadinho como a Associação Portuguesa de Futebol em Espanha. Porque a aplicação que eles desenvolveram para ver jogos de futebol, os resultados, etc, em Espanha, não pedia acesso ao áudio, não dava as informações suficientes para obter o consentimento para aceder ao áudio dos telemóveis, dos devices e dos utilizadores. Mas depois a LaLiga estava a utilizar isso para tentar saber e perceber quem é que estava a ouvir um jogo de futebol, mas que não tinha subscrição imaginem da Sport TV, o equivalente lá, e depois ia validar que aquela pessoa estava a cometer um ilícito e ia obter a responsabilização dessa pessoa que estava a ouvir e que era um streaming que não era legal.
Ana Pratas:Bolas.
Patrícia Macedo Alves:Isto aconteceu e houve uma coima aplicada, e estamos a falar de uma aplicação criada pela La Liga, portanto uma entidade perfeitamente idónia que partiu
Ana Pratas:especial.
Patrícia Macedo Alves:cumprir com todos os pressupostos. Qual é que é o meu conselho aqui em resumo no meio disto tudo? Validarem tentarem validar se o áudio está ativo se não está ativo nas definições. Depois, o próprio acesso à galeria. Às vezes nós, enquanto utilizadores, damos acesso à galeria a aplicações que não têm que ter acesso à galeria. Então, porque é que nós estamos a dizer que sim a tudo? Portanto, em segundo lugar, tentarem validar se, as aplicações que temos com acesso à galeria fazem sentido, se devem se precisam de conhecer as nossas fotos. Se precisam de conhecer todas as fotos ou só aquelas que nós selecionamos como é o caso da aplicação. Depois, tentar validar a política de privacidade e ver o que é que é dito. Para é que os meus dados vão ser utilizados? Vão ser utilizados para fins comerciais publicitários, sim ou não? Vão ser treinados algoritmos com base naquilo que eu coloco lá todos os dias, com o que eu comunico todos os dias com os meus colegas com as pessoas com quem falo nas redes sociais? Sim ou não? E depois tentar fazer aqui uma validação das funcionalidades básicas que nós temos em certas aplicações e se elas continuam a fazer sentido. Porque muitas delas continuam a aceder ao nosso dispositivo e, se calhar nós já nem as usamos. Depois, validar aquilo que é o mais importante quanto a mim, mas tudo isto antes também é importante e às vezes esquecemos, que é validar se a aplicação oferece garantias de privacidade ou se podemos utilizar uma aplicação gratuita também mas que esteja no espaço económico europeu e que seja um bocadinho mais protetora dos nossos direitos em matéria de proteção de dados pessoais. E até de segurança da informação. E, para isso, nós conseguimos perceber isso com uma simples pesquisa porque há muitas ferramentas que não estando no espaço económico europeu não vão cumprir, sendo gratuitas também não vão tendencialmente cumprir, vão analisar. E, portanto temos que tentar ter aqui uma alternativa de confiança da nossa cadeia de confiança, que faça sentido sem estar a ser tão ingerente naqueles que são os nossos direitos. Isto um juízo de proporcionalidade. Justifica eu estar a dar tudo e tanto para ter aquele software gratuito ou há um no mercado que tem algumas garantias adicionais que eu possa utilizar? E nós temos que ter esta preocupação sobretudo com fotografias temos terceiros, temos crianças, temos idosos temos pessoas vulneráveis e agora com a inteligência artificial há um intensificar.
Ana Pratas:Recentemente aquele fenómeno das fotografias desenhadas, como era o desenho de um estúdio...
Patrícia Macedo Alves:Sim, já não lembro o nome disso, mas sim, a utilização de uma fotografia para,
Ana Pratas:que colocou lá a fotografia perdeu qualquer direito sobre essa imagem, basicamente, não é?
Patrícia Macedo Alves:permitiu a utilização dessa imagem para treino de Inteligência Artificial, e vemos muita gente a publicar não só fotografias de pessoas que estão vivas e que podiam não aceitar, como até de pessoas que já faleceram, o que também é uma preocupação.
Ana Pratas:é assim um bocado
Patrícia Macedo Alves:A pessoa já faleceu, tem direitos na mesma relativamente à sua imagem, atenção, porque o RGPD prevê que haja a proteção dos dados dos falecidos quando sejam dados relativamente à imagem e, portanto podemos ter sempre um herdeiro a vir e exercer algum direito relativamente a estes tópicos, mas, sobretudo são pessoas que já não estão cá. E que já podem nem ter pegada digital e que nós estamos a introduzir a pegada digital.
Ana Pratas:Não, só essa questão, mas depois há outra questão que é a questão, não tem nada a ver com privacidade, mas a questão ambiental também aí também é um outro...
Patrícia Macedo Alves:também saiu uma notícia sobre isso, não é? Quem diz, quem trata bem, quem é polite.
Ana Pratas:interação com a inteligência artificial com estes modelos, gasta imensa energia e a geração de fotografias e de imagens ainda mais
Patrícia Macedo Alves:Nós acreditamos que isto está online e que não está em suporte físico em lado nenhum. Mas os servidores cloud, os grandes data centers têm uma pegada digital de elevado impacto. Para manter tudo capacitado, tudo online e tudo disponível. E essa é uma das grandes questões não só da Inteligência Artificial, claro, porque é preciso uma quantidade massiva de dados que tem que estar armazenada em algum lado, mas também dos data centers, os grandes data centers, Tem uma pegada digital muito impactante e que não pensamos muito sobre isso porque achamos que os dados estão na nuvem, não é? Mas não estão. Estão em qualquer lado.
Ana Pratas:Olha, eu acho que falámos aqui sobre imensa coisa, foi mesmo muito bom, eu tinha aqui já ainda matéria para mais, mas acho que conseguimos falar das coisas mais importantes e esclarecer aqui as pessoas que nos ouvem, não sei se queres acrescentar mais alguma coisa,
Patrícia Macedo Alves:Não, acho que não, acho que é isso. Os inputs principais acho que são estes o resumo que fiz agora há uns instantes. São as principais preocupações que eu acho que nesta fase temos que ter, claro que quem trabalha com fotografia a nível profissional tem outras preocupações porque tem de cumprir a legislação, tem de cumprir o RGPD e portanto tem obrigações adicionais porque trata dados. Enquanto responsável pelo tratamento desde relações contratuais que são estabelecidas, podemos fotografar os eventos não podemos se o evento é público, se é privado se é de grande dimensão se é pequeno, pronto, viemos para todo um novo mercado. Mas enquanto utilizadores e enquanto amantes de fotografia, acho que estas são para já as preocupações principais e se nós conseguirmos consciencializar para grande parte elas já estamos acho que a criar um Um ambiente mais seguro para a nossa identidade digital que tão difícil é depois controlar.
Ana Pratas:É, mesmo. Olha, eu vou, só para dizer que eu vou na descrição do episódio, eu vou deixar todos os links de tudo o que nós falámos, da empresa também da Patrícia, também estes serviços que falámos, mais seguros, menos seguros, vou colocar também na descrição do episódio e obrigada Patrícia, por esta oportunidade de ter-me aqui. E assim terminou então esta nossa conversa. Como eu já tinha avisado no início, houve ali uma perda nos últimos segundos do episódio, mas que nada afetou o resto da conversa. Queria mais uma vez então agradecer à Patrícia pela sua contribuição tão importante e eu espero que desse lado também tenha gostado de ouvir e que saiba melhor, então agora. Um pouco melhor de como é que tudo isto funciona e que consiga utilizar todas estas tecnologias com um pouco mais de conhecimento e um pouco mais de segurança, porque é esse realmente o grande objetivo. Lembro mais uma vez que na descrição do episódio encontra todos os links para os recursos e ferramentas que falámos ao longo do episódio e que aconselho a explorar. E peço-lhe também que partilhe, em especial este episódio quer nas redes sociais quer de modo privado com os seus familiares e amigos, porque penso ser talvez o episódio mais importante que já fiz neste podcast. E que eu acho que realmente precisa de ser ouvido. E, entretanto, não se esqueça também de subscrever o podcast, quer no Apple Podcast ou no Spotify para não perder os próximos episódios. Boas fotografias e encontramos-nos em breve