Conexão sapiens

Sabotagem da sua socialidade pela emoção #21

Kald Abdallah Season 2 Episode 21

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As nossas emoções irão moldar a nossa socialidade e vice-versa. O contato social desencadeia emoções que devem ser monitoradas e manejadas ativamente, para cultivar a socialidade, e uma vida social rica irá prover a experiência necessária para você desenvolver a sua cognição emocional. Esta capacidade cognitiva de apontar a nossa atenção alternadamente para fora e para dentro quando adequado ilumina a direção que irá trilhar a nossa jornada individual e social. O grande perdedor desta estória toda será a síndrome do impostor.

Por favor me enviem sugestões, críticas construtivas e perguntas. Me sigam no Instagram @kaldconexaosapiens e para concluir, caso você ache que este é um assunto que vale a pena, por favor espalhe essa notícia, tem um novo podcast - Conexão Sapiens: a ciência desvendando você.

o Um grande abraço do Kald.

Conexão Sapiens: a ciência desvendando você.

Podcast número 21 da fase inicial de síntese, área socialidade.

Sabotagem da sua socialidade pela emoção.

Oi, pessoal, muito bom estar de volta hoje no episódio 21.

Lembro-me bem de uma conversa que tive com um amigo e colega de trabalho, na época em que eu estava fazendo pesquisa em imunoterapia para pacientes com câncer de cabeça e pescoço no HCFMUSP. Ele calmamente me ajudou a confrontar problemas que eu estava evitando de enfrentar e me mostrou o caminho de como eu deveria iniciar conversas difíceis. A maturidade e a coragem dele sempre me inspiraram, um médico cirurgião que foi um modelo para mim. Esta conversa ocorreu há 20 anos e infelizmente eu não pude dizer a ele como isso me impactou, pois por ironia do destino o câncer o levou muito cedo. Ter a coragem necessária para enfrentar o próprio medo, parar de procrastinar e entrar na arena para fazer o que é o certo é uma a habilidade que a gente não nasce sabendo. Porém uma vez que você entende o quão importante, fica difícil voltar aos antigos hábitos, o padrão que se espera de si mesmo muda.

Muitos anos depois, após a uma conversa no meio da tarde de um dia agitado de trabalho, eu ainda estava um pouco emocionado, com os olhos marejados, quando um colega se aproximou e me perguntou se eu estava bem. Disse a ele que eu estava bem, mas tinha acabado de ter uma conversa de cerca de 1 hora que tinha sido um pouco emocionante, nada triste, porém algo importante relembrando momentos significativos da vida. Este colega me disse surpreso que ele não se recordava de ter tido uma conversa de trabalho em que ele ficasse emocionado. Eu disse que conversas que envolviam momentos um pouco mais emotivos por motivos de saudade, tristeza, alegria eram bastante comuns na minha rotina de trabalho. Tenho muitos colegas que tive conversas memoráveis sobre a vida, filhos, perdas, vitórias...

Muitas pessoas não costumam conversar de forma mais íntima, em conversas mais difíceis. Há a um grupo de pessoas em que a confiança mútua necessária para conversas mais íntimas e significativas não existe, intimidade e vulnerabilidade estão completamente fora de cogitação. Enfatizei bastante no episódio sobre o Harry e a Hermione a importância de se ter um BFF, ou seja, de ter um amigo especial que se confie plenamente e se cultive um relacionamento profundo. O limite da qualidade dos seus relacionamentos sociais é o seu melhor relacionamento, caso você não tenha amigos íntimos, todos os seus relacionamentos serão superficiais. A importância de se cultivar intimidade deve ser ressaltada, pois a socialidade saudável é uma pedra fundamental para a sua saúde e felicidade. Portanto se torna essencial a coragem para enfrentar as emoções que colocam obstáculos no caminho da socialidade saudável. Parafraseando a pesquisadora Brene Brown, coragem para enfrentar o medo, a tristeza, a raiva e o desprezo será fundamental para que você possa entrar na arena. A arena imaginária descrita por Brene Brown simboliza a necessidade de ter coragem para se expor e enfrentar os desafios necessários para se integrar de forma significativa na própria vida social.

Construir relacionamentos na vida pessoal ou profissional que tenham a qualidade necessária para conversas mais íntimas demonstra uma socialidade mais robusta e saudável. Se sentir seguro o suficiente para uma conversa íntima que expõe vulnerabilidades de ambos os lados reflete o que há de mais saudável na nossa humanidade. Ter a coragem de conversar sobre assuntos difíceis e depois retomar o seu dia demonstra uma habilidade de lidar com as próprias emoções. Durante o trabalho como médico, perdi a conta do número de vezes em que eu tive uma conversa difícil. Empatia e compaixão devem fazer parte integral da nossa vida social, a coragem para conversar sobre algo mais difícil não acontece espontaneamente e necessita de treinamento.

Durante milhões de anos os seres humanos evoluíram em uma aldeia pequena onde todos choravam e sorriam juntos e tinham a intimidade profunda de uma convivência intensa e com objetivos comuns. O contexto da nossa vida atual não prove esta dinâmica. O sucesso na nossa vida social depende muito do desenvolvimento individual, conforme discuti no podcast sobre as 2 jornadas humanas, o sucesso e o progresso em ambas as jornadas ocorrem paralelamente. Não é possível estabelecer uma relação íntima sem fazer o dever de casa de aprender a lidar com as próprias emoções. Socialidade saudável e cognição emocional refinada estão então intimamente integradas dentro do sistema de conexões da vida humana. É importante destacar este fato pois muitas pessoas se sentem sozinhas e procuram no mundo como curar a dor do isolamento social, porém é possível que estas pessoas precisem olhar para si mesmas e aprender a desenvolver uma vida emocional mais madura para trilhar o caminho de uma vida social saudável. Atingir o equilíbrio para a dedicação balanceada entre as 2 jornadas requer uma perspectiva que deve alternar um olhar para o social com um olhar interno.

A vida se tornou mais corrida e o tempo é um recurso raro e protegido agressivamente, dá a impressão de que não teremos mais espaço ou tempo para conversas íntimas e difíceis. Conversas que requerem uma conexão mais íntima com compaixão e ou demonstração de vulnerabilidade só pode começar caso ambos os lados estejam comprometidos com o relacionamento (amizade, família ou romance). Procrastinar conversas que temos medo de enfrentar é a regra, frequentemente faremos o mais fácil e não o que é o certo a se fazer. O problema de deixar o nosso medo comandar as nossas ações é que o preço é pago a longo prazo e o benefício de curto prazo é uma ilusão. Conseguir enfrentar conversas difíceis, às vezes somente ouvir com empatia, sem fazer nada mais, demonstrando respeito e consideração pela pessoa que sofre, pode ser o melhor que poderíamos fazer.

Décadas de pesquisa sobre o câncer me tornou uma referência, conversas sobre o sofrimento das pessoas com câncer aconteceram mais vezes do que eu poderia contar. Nunca foi fácil ter a conversa e no decorrer de anos fui gradualmente entendendo qual a recomendação e como demonstrar respeito e empatia mesmo diante de situações sem nenhuma opção. Conversar sobre como se preparar para a própria morte ou de alguém que você ama nunca foi fácil, porém estas conversas serviram de base de uma conexão de amizade com inúmeras pessoas, e apesar de muitas vezes não ter uma solução a oferecer, acredito que sempre foi fundamental demonstrar empatia e ouvir. Ou seja, estar presente e dentro da arena.

Saber refletir sobre as nossas próprias emoções para que possamos estar presentes quando necessário e não permitir estas emoções nos levar para o caminho do que é fácil, mas não certo, requer crescimento, reflexão e coragem. Porém mesmo quando triste, após uma conversa difícil, a gente pode ir para casa em paz, com a sensação interior de ter feito o melhor possível.

Acredito que postergar ou nunca enfrentar as nossas próprias emoções para fazer o que é certo se torna um hábito e a longo prazo esta pessoa se sentirá uma grande impostora. Uma das conversas mais difíceis que eu já tive, confesso não consegui lidar de uma forma madura, fiz comentários superficiais e não consegui me conectar ou empatizar com um pai que havia perdido um filho após um acidente banal. A dor deste pai era algo tão profundo e difícil de manejar, ainda não sei se conseguiria lidar com tanto sofrimento. Mas acredito que eu deveria sempre tentar.

Isto não significa que todas as suas conversas devem ser sempre densas e profundas, qualquer tipo de conversa tem o potencial de enriquecer a sua socialidade. O ponto é ter interações onde ambos os lados da conversa estejam sintonizados cognitivamente e emocionalmente. Esta necessidade de olhar para o mundo interior e entender as emoções que o mundo exterior nos traz e um passo crítico no caminho de uma socialidade saudável. A prática necessária para olhar para fora e para dentro alternadamente, com o objetivo de achar o equilíbrio certo para manejar as próprias emoções e cultivar intimidade e uma socialidade saudável, e um exercício que requer esforço e coragem. Saber identificar como nossas emoções moldam o nosso comportamento diante de situações sociais não acontece por acaso.

Identificar como as diferentes emoções, principalmente a tristeza, raiva, medo e o desprezo podem moldar o que faremos em situações sociais diferentes irá demandar tempo, reflexão, conversas e muitas outras atividades até chegar no ponto em que você se torna alguém que pode construir relacionamentos íntimos, se mostrar vulnerável e construir um ambiente seguro o suficiente para as outras pessoas se sentirem confiantes com você para demonstrar vulnerabilidade também. Neste momento, você passa a ser o agente da sua própria vida emocional e não uma vítima dela. Não saber lidar com as nossas próprias emoções causa danos não só na nossa própria individualidade e autodescoberta, com uma identidade frágil, ou seja, síndrome do impostor, mas também afeta nossos relacionamentos. A falta de uma cognição emocional refinada irá causar danos individuais e a socialidade. Parece paradoxal que você precise aprender o valor da vulnerabilidade para aumentar a autoconfiança, mas acredito que este seja o caso.

Uma das emoções que mais traz a paralisia social é o medo. O medo de ter conversas íntimas, de se expor como impostor, de perder o status social, ser agredido, entre os muitos medos diferentes, paralisa e causa uma socialidade frágil que por si causa mais medo, um círculo vicioso. Aceitar a presença do medo na nossa socialidade, respeitando esta emoção como algo significativo, sem permitir que este tome a direção, trará autoconfiança. A grande maioria das situações fantasiadas que geram o medo são fabricações de uma mente fértil, permitir que o medo molde a narrativa da nossa mente irá paralisar a nossa vida continuamente, não entraremos na arena da vida

Outra emoção que frequentemente sabota a nossa socialidade é o desprezo, principalmente quando a outra pessoa é diferente de nós ou pensa de forma oposta. Isto é muito natural entre os seres humanos devido ao nosso viés cognitivo contra quem é diferente, homo sapiens é muito desconfiado com pessoas de outra tribo. Perdi a conta do número de vezes que comecei a conversar com alguém que falava ideias e ou argumentos que eu considerei a priori completamente estúpidos. Quando eu percebo este viés contra tudo que a pessoa fala, procuro dentro da minha própria mente identificar os argumentos que demonstrarão que eu posso estar errado, busco usar a metacognição para promover para mim mesmo as ideias das pessoas que me incomodam, ou seja, eu coloco minha mente para trabalhar e provar para a minha emoção que a pessoa pode estar certa. Várias vezes aprendi bastante e identifiquei ideias inovadoras e criativas, que permitiram avanços importantes nas pesquisas que eu fazia. Adotar a diversidade tem um efeito muito profundo na qualidade da nossa socialidade, porém requer autocontrole e uma cognição emocional sofisticada. Cultivar uma vida entre pessoas que pensam e agem como nós mesmos, sem reconhecer internamente como o desprezo pelo diferente está moldando o nosso comportamento, é uma receita perfeita para a mediocridade.

O conexão sapiens irá aprofundar a discussão a respeito de metacognição durante os episódios da área cognição e discutir o reconhecimento das diferentes emoções durante os episódios da área individualidade. A combinação de uma alta consciência corporal, combinada com a capacidade de reconhecer as próprias emoções e capacidade metacognitiva pode criar a combinação certa de habilidades necessárias para a regulação emocional durante interações sociais. Existem várias habilidades diferentes que quando existentes agem sinergicamente para permitir um equilíbrio emocional que favorece uma vida social rica. É preciso entender todo o sistema e cada um dos componentes para poder desenvolver um plano de aprendizado das habilidades certas.

As nossas emoções irão moldar a nossa socialidade e vice-versa. O contato social desencadeia emoções que devem ser monitoradas e manejadas ativamente, para cultivar a socialidade, e uma vida social rica irá prover a experiência necessária para você desenvolver a sua cognição emocional. Esta capacidade cognitiva de apontar a nossa atenção alternadamente para fora e para dentro quando adequado ilumina a direção que irá trilhar a nossa jornada individual e social. O grande perdedor desta estória toda será a síndrome do impostor.

 

Por favor me envie sugestões, críticas construtivas e perguntas. Para concluir, caso você ache que este é um assunto que vale a pena, me siga no Instagram @kaldconexaosapiens e por favor espalhe essa notícia, tem um novo podcast - Conexão Sapiens: a ciência desvendando você

Um grande abraço do Kald

Meu nome e Kald Abdallah, sou médico e tenho experiência atendendo pacientes de mais de uma década trabalhando principalmente no Hospital Sírio Libanês e HCFMUSP. Faz 24 anos que eu faço pesquisa e desenvolvimento de novos tratamentos para o câncer, com inúmeras publicações científicas. 17 anos atras eu mudei para os EUA e na minha carreira dentro da indústria farmacêutica, trabalhei em várias grandes indústrias como Merck, Sanofi, AstraZeneca, culminando com a posição de chefe mundial da oncologia médica, liderando centenas de ensaios clínicos e um orçamento anual de 1.2 bilhões de reais. Como executivo da indústria farmacêutica, fui pioneiro no desenvolvimento da imunoterapia em câncer, membro do time que desenvolveu e lançou o primeiro medicamento de imunoterapia que demonstrou aumento da sobrevida. Eu estive envolvido no desenvolvimento e lançamento de 7 novos medicamentos oncológicos, que hoje são utilizados em mais de uma dúzia de tumores em várias dezenas de indicações. A imunoterapia no câncer foi uma das causas que pela primeira vez na história houve uma redução da mortalidade do câncer e foi o racional do Prêmio Nobel de medicina de 2018 do Prof James Allison, com o qual trabalhei diretamente. Fui membro do NCPF, um grupo que faz parte da academia nacional de ciências dos Estados Unidos e aconselha políticas relacionadas ao câncer, também participei no board da sociedade norte-americana de imunoterapia no câncer, entre várias outras sociedades médicas. Liderei iniciativas pioneiras em compartilhamento de dados em Oncologia, que foram reconhecidas pelo renomado Think Tank FasterCures e pelo 41º Presidente dos Estados Unidos George H. W. Bush. Também liderei a resposta à crise da pandemia dentro de uma indústria farmacêutica, iniciativa que pela sua excelência, recebeu reconhecimento da academia nacional de ciências dos Estados Unidos. Recentemente, comecei um projeto que tem sido uma verdadeira paixão para mim: o Conexão Sapiens – A ciência desvendando você! É um podcast que busca ir além das estórias passageiras, oferecendo uma exploração profunda e duradoura com o objetivo de sintetizar a ciência no apoio a sua jornada de crescimento social, pessoal e cognitivo. Esta síntese é o resultado de mais de 2 décadas de estudo.

 

Convido você a participar dessa jornada de crescimento social, pessoal e cognitivo comigo! 

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