A Rússia de Putin – Síria: O teste de força da Rússia

Como um simples oficial da KGB se tornou um dos líderes mais poderosos e controversos do mundo? Nesta série especial do podcast 4 Minutos, acompanhamos de perto a ascensão de Vladimir Putin ao poder – da sua infância na Leningrado soviética à sua carreira nos serviços de inteligência e os momentos-chave de seu governo que transformaram a Rússia e o mundo. Quais eventos moldaram sua política? Quais são as raízes do conflito atual? E o que o futuro reserva para a Rússia?

Junte-se a nós nesta série envolvente e entenda como surgiu a Rússia de Putin. 🎙️

Transcript

Entre 2015 e 2021, a Síria tornou-se um laboratório para Vladimir Putin — para exibir poder militar, transformar as Forças Armadas russas e consolidar sua influência global. Enquanto a atenção do mundo estava voltada para o Estado Islâmico e a catástrofe humanitária, a Rússia, sob o pretexto de combater o terrorismo, iniciou uma das campanhas militares mais importantes de sua história recente.

Em setembro de 2015, as forças armadas russas intervieram oficialmente na guerra civil síria ao lado do regime de Bashar al-Assad. Putin se apresentou como o defensor de um Estado soberano contra a agressão externa e o extremismo islâmico. Na realidade, tratava-se de um cálculo geopolítico: Moscou não queria perder seu principal aliado no Oriente Médio, sua base naval em Tartus, nem a chance de mostrar ao Ocidente que a Rússia estava de volta ao palco global.

A intervenção russa teve um impacto imediato. Com ataques aéreos, conselheiros militares e fornecimento de armas, o regime sírio conseguiu conter o avanço das forças opositoras e recuperar áreas estratégicas do país. Embora o objetivo declarado fosse eliminar grupos terroristas, a maioria dos ataques teve como alvo a oposição anti-Assad, inclusive áreas civis. O resultado: milhares de mortos, hospitais e escolas destruídos — e um Putin fortalecido como protetor de regimes autoritários.

A Síria tornou-se a vitrine do novo exército russo. O uso de sistemas modernos de armas, mísseis guiados de precisão, caças Su-34 e sistemas de defesa antiaérea S-400 mostrou que as Forças Armadas russas passaram por uma profunda modernização. Moscou também testou sua capacidade logística, estrutura de comando e cooperação com outros países, especialmente Irã e Turquia.

A missão na Síria também rendeu dividendos diplomáticos a Moscou. A Rússia se apresentou como mediadora da paz, mesmo enquanto intensificava o conflito. O Ocidente, desgastado por suas próprias intervenções no Oriente Médio, recuava. Putin ocupou o vácuo de poder que antes pertencia aos Estados Unidos. Além disso, a Rússia usou a Síria como campo de testes para a guerra de informação: espalhou desinformação, justificou ataques contra civis e minou a confiança nas instituições internacionais.

Do ponto de vista militar e político, a intervenção na Síria foi um sucesso para o Kremlin. Putin comprovou que podia usar a força sem enfrentar consequências graves por parte da comunidade internacional. Ganhou prestígio entre regimes autoritários e reforçou, perante o público interno, a imagem da Rússia como potência mundial.

Ao mesmo tempo, nascia na Síria uma nova doutrina: a guerra como ferramenta diplomática, a propaganda como estratégia e o exército como produto de exportação. Todos esses elementos seriam vistos mais tarde na Ucrânia e em outras regiões do mundo.

No próximo episódio, abordaremos o ataque à democracia: campanhas de desinformação russas, ciberataques e tentativas de influenciar eleições ao redor do mundo. Como o Kremlin se tornou um campo de batalha digital? E por que a interferência russa chegou até mesmo às maiores democracias do planeta?

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Obrigado por nos ouvir e até o próximo episódio.