Duplo Clique

#14 Trump x Harvard, Julgamento da Meta e Deportação de Imigrantes Legais

Andrea Janer e Fernanda Belfort

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A tensão entre o governo Trump e as instituições acadêmicas americanas atingiu um novo patamar. Harvard resiste bravamente às pressões e imposições que visam eliminar programas de diversidade e inclusão, sofrendo como consequência o congelamento de bilhões em financiamento federal. Diferente de Columbia, que cedeu rapidamente às exigências, Harvard tem força para resistir graças ao seu fundo patrimonial de 50 bilhões de dólares – mas o que acontecerá com universidades menos abastadas?

Também debatemos o julgamento da Meta nos EUA, que pode obrigar a empresa a vender Instagram e WhatsApp. Este caso emblemático questiona o poder das big techs e seus métodos de crescimento através da aquisição de concorrentes. Por fim, exploramos o chocante caso do imigrante salvadorenho deportado por engano, símbolo da nova política migratória americana e suas graves consequências humanitárias.

"As opiniões expressas aqui são estritamente pessoais e não devem ser interpretadas como representativas ou endossadas pela Salesforce, empresa onde a Fernanda Belfort trabalha."

Andrea Janér:

Olá, sejam muito bem-vindos e bem-vindas a mais um episódio do Duplo Clique. Hoje a gente falou da queda de braço entre Trump e a Universidade de Harvard em um episódio que pode ter repercussões muito sérias para todo o sistema de ensino superior americano. Falamos também do julgamento que está acontecendo essa semana da meta nos Estados Unidos e que pode resultar na obrigatoriedade da venda de alguma das redes que pertencem à empresa. Falamos também do julgamento que está acontecendo essa semana da meta nos Estados Unidos e que pode resultar na obrigatoriedade da venda de alguma das redes que pertencem à empresa. E fechamos com um caso que está chocando o mundo a deportação por engano de um imigrante salvadorenho de volta para o seu país de origem e a recusa do governo em trazê-lo de volta.

Fernanda Belfort:

Vem ouvir essa conversa, que está cheia de pautas interessantes com a gente.

Andrea Janér:

Oi pessoal, E aí Déa Como é que está a Floripa, muito bom, hoje também gravando daqui. Vocês sabem, minha família mora aqui. Sempre que eu posso, eu venho pra cá. Amo essa época do ano aqui. Aproveitei essa semaninha aí que tinha aniversário da minha mãe, páscoa, e fiquei trabalhando daqui. essa semana abriu uma delícia sol, temperatura amena, muito bom.

Fernanda Belfort:

Cidade maravilhosa. Não é por pouco que o Scott Galloway planeja morar aí no futuro. De repente, né, então, gente?

Andrea Janér:

vai se aposentar e vem morar em Floripa. Tem várias pessoas que falam tem uma lenda que o Peter Thiel tem uma casa aqui, sabia? Ah, é, é, tem várias pessoas aqui meio incômodas. Uma conexão né É um ecossistema de tecnologia super respeitável. Aqui tem uma turma que veio morar aqui. Tem muita gente que abriu suas empresas de tecnologia aqui e fica um pouco nessa ponte aérea Floripa-SP. É bem interessante.

Fernanda Belfort:

Eu penso em me aposentar aqui, quem sabe, não sei se eu vou me aposentar um dia, mas quem sabe, eu vou com você pra gente ficar bordando e falando as notícias que a gente leu, entendeu? bordar com notícias muito bom, muito bom. E aí, querida, como que são, qual que é o primeiro assunto que você traz pro Duplo Clique dessa semana?

Andrea Janér:

eu acho que o grande assunto, pelo menos que eu prestei atenção essa semana, foi a história de Harvard, a briga do Trump com Harvard é incontornável falar do Trump aqui.

Andrea Janér:

A gente pode até agradecer o patrocínio que ele está dando para o nosso podcast, porque toda semana ele produz uma série de pautas que a gente acaba abordando aqui. E realmente a cada semana a gente vai se surpreendendo ainda mais, como se fosse possível, com tudo que está acontecendo, tudo que está vindo dos Estados Unidos. Eu acho que esse assunto é um assunto importante que a gente precisa dar um duplo clique, porque eu acho que ele vai ter reverberações e repercussões muito importantes em todo, não só o ecossistema de educação, mas econômico mesmo dos Estados Unidos. E só para contextualizar todo mundo aqui vou contar rapidamente a história.

Andrea Janér:

Vamos dar um zoom out aí, voltar um pouco e contar o que aconteceu pra quem tá não leu a notícia, acho que a gente já falou aqui recentemente sobre um ataque que Trump fez à Colômbia, que foi o mais forte né E eu também, mas principalmente Colômbia em que ele cortou verbas que seriam repassadas, que são repassadas anualmente a essas universidades, alegando que no caso Colúmbia não suprimiu, não oprimiu suficientemente os protestos pro-Palestina, pro-ramas, enfim, que aconteceram por ocasião dos ataques a Israel. Então houve muitos protestos, a gente falou. Isso teve muita cobertura na mídia. Na época houve até violência, houve uma agressividade realmente exagerada. Começou essa discussão entre o que é liberdade de expressão e o que é passar do ponto né muito desagressivo e criar um clima de insegurança para os alunos judeus que estudavam nas universidades. Então isso foi uma onda que aconteceu em várias universidades americanas.

Andrea Janér:

Inclusive saiu semana passada um filme sobre isso chamado October 8th, na verdade um documentário feito por uma diretora. É super interessante, uma diretora não judia que eu achei bem interessante também e ela trouxe essa pauta porque ela disse que a sociedade se calou diante do antissemitismo, do crescimento do antissemitismo nos Estados Unidos. E eu acho esse assunto muito sério porque assim como a gente combate a gente já fez sempre fala isso aqui no podcast assim como a gente combate o racismo, a gente não pode deixar que o antissemitismo retorne. Isso é um problema da sociedade, não é um problema dos judeus.

Fernanda Belfort:

Isso é uma coisa surreal. Juro por Deus, me tira do sério essa conversa.

Andrea Janér:

E não é um problema dos judeus não é uma pauta dos judeus, é uma pauta da nossa sociedade. A gente já viveu isso, a gente sabe no que isso acabou e eu acho que a gente deveria ter realmente se engajado mais nessa conversa. Mas enfim, voltando aqui para o que aconteceu agora, colômbia realmente não reprimiu esses protestos como deveria, aliás, nenhuma faculdade reprimiu como deveria e agora o Trump está cortando essas verbas que ele repassaria, como repassa anualmente, essas universidades, sob a alegação de que, como elas não estão reprimindo o antissemitismo nos seus campi, isso vai acarretar nesse corte dos repasses. Colúmbia, por depender mais provavelmente dessa verba. Colúmbia, por depender mais provavelmente dessa verba, rapidamente concordou e seguiu a risca as determinações do Trump para poder se manter recebendo esse repasse.

Andrea Janér:

E essa semana o Trump fez isso com Harvard, com a Universidade de Harvard. Ele mandou uma carta para a Universidade de Harvard com uma série de exigências para manter esse financiamento do governo americano, incluindo encerramento de programas de diversidade, equidade e inclusão que a universidade mantinha. Revisão de políticas de admissão e contratação para eliminar critérios que ele considera ideológicos. Colaboração com autoridades federais para entregar apresentar estudantes internacionais que estavam envolvidos nesses protestos. Auditorias externas para garantir que os estudantes podem ter diversidade de opinião, professores e funcionários também, proibição do uso de máscaras em protestos nos campos e revisão de departamentos acadêmicos acusados de promover viés antissemita.

Andrea Janér:

Então eu acho que ele usou essa pauta do antissemitismo para colocar dentro dessa carta uma série de outras coisas. Uma carta longa deve ter umas cinco páginas e trazer vários temas que ele considera woke nessa cruzada dele que já afetou tanto essas políticas nos Estados Unidos, e ele está colocando tudo dentro desse grande balaio chamando isso somente de antissemitismo. Eu acho que tem muitas camadas, para usar um termo que está na moda. Tem muitas camadas De fato. Acho que o antissemitismo precisa ser combatido não só nas universidades, mas nas empresas enfim, em todos os lugares.

Fernanda Belfort:

Na sociedade como um todo. Nas mídias sociais. Nas mídias sociais.

Andrea Janér:

Depois a gente entra nesse tópico. Mas o que ele está fazendo nas universidades é o que os americanos chamam de jogar água do banho com o bebê junto. Ele está cortando verbas que são muito importantes para a manutenção de pesquisas, de professores, de salários, de bolsas de estudo, com essa alegação. Então eu acho que esse é um ponto muito importante. Eu acho que é o que ele está fazendo em outros setores também. Ele corta simplesmente, ele proíbe, E aí essa é a maneira de corrigir esses excessos.

Andrea Janér:

A gente sabe que existem excessos, existem várias coisas que precisam ser corrigidas quando a gente fala de DI e tudo mais, mas a maneira de corrigir não é simplesmente suspender ou banir. E eu acho que o que tem de interessante nessa história de Harvard é que, diferentemente de Colúmbia, Harvard resistiu e o seu reitor respondeu com uma carta de volta para o Trump, rejeitando essas exigências, afirmando que elas violam os direitos constitucionais da universidade e, mais importante de tudo, representam uma tentativa de controle governamental sobre instituições privadas. Uma tentativa de controle governamental sobre instituições privadas. Então assim é uma queda de braço. Essas coisas que o Trump tem feito lembram muito um governo autocrático, autoritário, E Harvard stood up, se manteve forte ali, Disse que a universidade não vai ceder sua independência nem renunciar a seus direitos constitucionais Resistiu.

Fernanda Belfort:

A gente estava tentando falar como faz stand-up, como fala né Resistiu.

Andrea Janér:

E aí a consequência foi que o Trump finalmente congelou 2,2 bilhões de dólares em financiamentos e está agora ameaçando revogar o status de isenção fiscal de Harvard porque agora ficou uma queda de braço. Harvard pôde resistir. Acho que isso é importante colocar aqui na nossa conversa. Harvard pôde resistir porque Harvard tem o maior endowment dos Estados Unidos. Endowment é um fundo patrimonial de mais de 50 bi de dólares. Harvard é muito rica E esse endowment vem de anos e anos, décadas e décadas de doações de ex-alunos, de fundações, de famílias que passaram por lá. Então é realmente um status invejável para a maioria das universidades. Realmente, harvard é o que é, muito graças a esse endowment. Esse endowment ele cobre mais ou menos um terço das despesas anuais de Harvard, com basicamente salário de professores, despesas operacionais Harvard, com basicamente salário de professores, despesas operacionais, manutenção da infraestrutura, enfim, pesquisa, bolsas também. Mas esse fundo é considerável e ele tem um papel muito importante, não só em Harvard, mas desculpa esse repasse, essas verbas do governo. Elas são super importantes não só para Harvard, mas para todo o sistema de ensino superior dos Estados Unidos, que é um sistema muito exemplar para o mundo todo. Quando a gente pega as 50 consideradas as melhores universidades do mundo, provavelmente 30 são americanas. Então o sistema de ensino americano, de ensino superior americano é muito respeitado até hoje, de lá que saíram grandes pensadores, grandes pesquisadores, prêmio Nobel. Então é um ambiente que, por mais que esteja sendo questionado agora com o advento da inteligência artificial e o preço das tuitions, o preço das mensalidades, o valor que custa se formar numa universidade americana, tem levantado questões sobre o endividamento dos alunos, que os alunos fazem empréstimos para poder pagar uma universidade americana e passam às vezes 20, 30 anos pagando. Então o débito estudantil é uma questão enorme nos Estados Unidos, mas apesar de tudo isso ainda é considerado um exemplo no mundo todo E essa briga do Trump com o ensino superior americano é algo muito preocupante porque mostra a mão forte do governo entrando em áreas que sempre foram redutos de um pensamento mais progressista, de pautas, agenda de costumes, pautas geopolíticas mais contemporâneas.

Andrea Janér:

Então assim eu acho que isso é muito sério e por isso que eu achei que valia a gente dar esse duplo clique aqui. É uma história que está se desenrolando enquanto a gente está aqui conversando. Então hoje de manhã já saíram outras notícias dizendo que o governo realmente está pensando em proibir Harvard de matricular alunos internacionais caso Harvard não entregue uma lista de alunos que estavam nos protestos que aconteceram em 2021, então assim ele vai usar todas as armas em 2021. Então assim ele vai usar todas as armas que ele tiver, então vai revogar a isenção de imposto, vai revogar a vista de estudante, legalmente matriculado ou seja. Essa briga está só começando E provavelmente vai se alastrar para outras universidades também que não vão ter o endowment de Harvard, não vão ter essa verba toda disponível nesse fundo patrimonial considerável para poder se dar, digamos, ao luxo de resistir às exigências do Trump. Então acho que isso é bem preocupante.

Fernanda Belfort:

E uma curiosidade que eu ouvi. Estava checando aqui um pouco a informação. Mas o presidente de Harvard hoje, que é o Alan Garber, ele é judeu. Então isso também é mais uma camada como você disse um dos termos da moda Interessante, porque claro que ele abraça todos os pontos de antissemitismo, e tudo isso até pela origem dele. Mas é o que você falou, assim, o que está em jogo aqui é algo muito maior do que isso. Então, acho que, a parte do, antissemitismo é uma pauta fácil de alguma forma de defender.

Andrea Janér:

E a própria universidade já declarou nessa carta em resposta ao Trump, que de um ano para cá a universidade já fez uma série de, já tomou uma série de iniciativas para coibir o antissemitismo no campus. Então não é que ela simplesmente permite que isso seja uma pauta relevante entre os alunos. Ela já tomou uma série de atitudes e isso deveria ser levado em consideração, digamos assim nesse corte que o Trump está fazendo, mas não está sendo considerado.

Fernanda Belfort:

E uma dimensão interessante. semana passada a gente falou bastante do tarifácio e eu estava ouvindo um podcast, também essa semana com o Ezra. Qual que é o sobrenome do Ezra? Deixa eu ver Ezra Klein.

Andrea Janér:

Ezra Klein.

Fernanda Belfort:

Do New York Times, que é um cara incrível, tem um podcast e tudo. Ele acabou de lançar um livro falando sobre a abundância e criticando ele é democrata, mas criticando o governo democrata de que eles são muito mais focados no processo do que no objetivo. E no meio dessa discussão toda estava tendo uma discussão sobre as tarifas e o questionamento dele é qual que é o objetivo disso tudo? Onde o governo Trump quer chegar? O que daqui a dois anos? a gente pode olhar como métricas, como KPIs, e falar bacana, atingiu ou não atingiu?

Fernanda Belfort:

E aí, se o objetivo é você, aumentar a presença de empresas, de indústrias, trazer mais investimento para os Estados Unidos, por um lado você poderia defender que as tarifas vão fazer isso, mas por outro precisaria ter uma estabilidade nos Estados Unidos para isso acontecer, desde não ter mudanças toda hora de custos e coisas, assim que acaba trazendo uma instabilidade. As empresas não vão querer investir nos Estados Unidos com essa instabilidade toda. Até isso os Estados Unidos, parte do poder que os Estados Unidos tem é porque os Estados Unidos foi uma nação estou dizendo no passado, foi porque atualmente eu acho que não está sendo que era o sonho de desejo de um monte de gente no mundo e que conseguia atrair pelas universidades, por tudo isso, os maiores talentos do mundo, conseguia fazer um monte de coisa. E a hora que você começa a ver essas políticas, elas são totalmente contraditórias. Então assim a gente vê o que está acontecendo em Harvard, o que está acontecendo com a estabilidade lá, e você fala cara, não faz sentido, parece uma briga pessoal.

Andrea Janér:

É uma pirraça. É uma pirraça. Você quer ser feliz ou ter razão, você quer aumentar a economia americana, ou você quer levar até os problemas pessoais.

Andrea Janér:

Ele está interferindo. Acho que por conta dessa o que a gente está chamando aqui de pirraça ele está interferindo com programas que existem há muitos anos. Por alguma razão. Existe uma razão para as coisas serem como são né. Esse programa de repasse de verbas federais para as universidades americanas acontece desde a Segunda Guerra Mundial. Foi um acordo feito naquela época para financiar pesquisas em áreas que eram consideradas cruciais para o progresso, para o desenvolvimento americano, como medicina, defesa, tecnologia, ciências. Então essa colaboração tinha como objetivo principal fomentar a inovação. Então os Estados Unidos estão cortando coisas que o levaram a ser o que ele é e, ao mesmo tempo, ele quer continuar brigando com a China, onde o governo tem uma participação gigante nessas pautas que são importantes para o crescimento da China. Eles têm um plano chamado Made in China 2025, que é um plano antigo, que eu conheci quando estive lá em 2019, que eles mapearam algumas áreas como robótica, computação quântica, inteligência artificial, e distribuíram verbas do governo. O governo distribui verbas de forma muito planejada e estruturada para cada uma dessas áreas, com metas muito claras de quando vamos chegar lá, de que forma. Tem um roadmap? tem um mapa para chegar em cada um desses objetivos? tem um horizonte de tempo.

Andrea Janér:

O plano contempla está assim estágios. Por exemplo, ser líder mundial em inteligência artificial era uma meta de 2030. Então tinha assim 2022 vai acontecer, tal, 2025, tal coisa, 2027, tal coisa e aí finalmente 2030. A gente vai estar nesse estágio. Então, como é um governo que não precisa se preocupar, é um governo chin, governo que não precisa se preocupar. É um governo chinês que não precisa se preocupar com eleição, com alternância de poder, com todas essas firulas dos governos democráticos que infelizmente são essas questões que são inerentes ao nosso regime. É um governo que está sentado no trono desde sempre, o Partido Comunista. Eles de fato, fato não se preocupam com opinião pública, com as próximas eleições.

Andrea Janér:

Então ele simplesmente decide quais são as áreas de desenvolvimento do governo, coloca uma verba, coloca uns talentos para trabalhar nisso e vamos embora. Então acho que esse é o motivo pelo qual eu acredito, enfim dificilmente, a China não vai ser a maior economia mundial, a maior potência do mundo daqui a quatro, cinco anos, porque a maneira como eles são estruturados e como eles lidam com toda essa questão do investimento, da participação do Estado, o Estado é participante ativo da economia chinesa. A maioria dessas empresas que a gente ouve falar a China, enfim a Tencent, a Alibaba, todas elas têm participação do governo.

Fernanda Belfort:

E daí a preocupação com o TikTok, por exemplo, e toda a parte toda a discussão que tá tendo Dea. Isso me lembrou acho que até já comentei aqui isso nos primeiros podcasts que a gente fez. Mas eu ouvi um podcast com o Jonathan Haidt que é o cara do Geração.

Fernanda Belfort:

Ansiosa e o Simon Sinek E o Jonathan Haidt. Tava fazendo um comentário né que não tem nada a ver com o livro. E o Jonathan Haidt estava fazendo um comentário que não tem nada a ver com o livro. Acho que foi quando ele começou o tour para divulgar o livro, mas estava um comentário totalmente fora. Mas foi uma coisa que me chamou a atenção, dele falando o quanto que o sistema atual acaba de alguma forma privilegiando ou sendo mais útil e eficiente para as ditaduras do que para a democracia. Porque ele falando puxa, quando se fez esse sistema da divisão dos três poderes, de tudo isso de você pegar e eleger pessoas para essas pessoas representarem o povo, ficarem discutindo calorosamente o que deveria acontecer ou não durante quatro anos e depois de quatro anos terem essa validação se o que elas estavam fazendo estava em linha ou não. Tudo isso funcionava melhor quando não tinha mídia social e as pessoas não estavam tendo que avaliar a cada discurso que elas fazem, a cada coisa que acontece e tudo qual era a repercussão que isso estava tendo. Porque a gente sabe que o povo é passional, faz parte, todo mundo é muito assim. Então não dá pra gente ficar medindo as coisas nos micromomentos com uma avaliação passional do que está acontecendo. E a hora que você tem essas mídias sociais, isso acaba de alguma forma enfraquecendo ainda mais.

Fernanda Belfort:

Quando os algoritmos estão em cima de toda essa parte das emoções, de você estar indignado com alguma coisa e tudo, porque essas são as coisas que ressoam, enquanto você vai para uma ditadura em que não precisa ter essas validações, não precisa ter nada disso, e que esta tecnologia toda, esse avanço tecnológico que por um lado expõe e enfraquece de certa forma assim a democracia eu tô falando enfraquece e vai ter um monte de gente que vai falar Fernanda, você tá louca. Porque é importante, tem censura, Gente, eu amo a democracia, eu super concordo. Eu não tô defendendo isso. Eu só tô fazendo uma análise de que assim os desafios hoje em dia estão maiores e quando você vai pra uma ditadura, o difícil da ditadura no passado era controlar a população toda.

Fernanda Belfort:

Imagina hoje na China que eles têm acesso a todas as mensagens, a todas as coisas, tem câmera por todos os lados sem reconhecimento facial. A tecnologia só fez, só fortaleceu a força que isso pode fazer. Tudo bem, por um lado tem internet, tem coisas que vão contra essa teoria, mas eu acho que é um ponto de vista interessante da gente pensar E talvez seja um bom gancho para a nossa próxima pauta que é o trial?

Fernanda Belfort:

down battle.

Andrea Janér:

É uma sociedade que vive sob permanente vigilância. Por isso que a gente não tem tanta visibilidade do que acontece lá dentro. A mídia é controlada pelo governo também igual a Rússia exatamente.

Andrea Janér:

Você não sabe direito o que está acontecendo lá, por isso que de repente aparece um deep sea, que fica todo mundo, meu assim. Você não sabe direito o que está acontecendo lá, por isso que de repente aparece um deep seek. Fica todo mundo, meu Deus, onde estava essa empresa? a gente não sabe o que está acontecendo lá dentro. Você pode ir para a China, você pode visitar. Tudo é muito controlado, tudo é muito limitado, restrito. A população responde. As pesquisas de satisfação com a sua vida sempre são ótimas, porque os resultados também não podem ser diferentes. Quando você tem uma pesquisa, você é feliz. Aqui as pessoas não podem responder nada muito diferente. Então é realmente uma sociedade muito peculiar nesse sentido. E por isso que eu acho que eu amo e adorei ir pra China. Quando eu fui pra China, voltei muito encantada porque mexe com a gente quando você tá lá, porque você vê que realmente Ai quero tanto ir, não fui ainda.

Andrea Janér:

Então vamos combinar de juntas Vamos, Mas eu acho que a questão da China é que você volta de lá muito mexido, faz uma viagem da Oxygen vai pra gente ir pra China, Vamos vamos tem muita gente pedindo a gente vai fazer, porque tem uma coisa de você estar sob um regime que você sabe que é autoritário e que você sabe que é ruim e que é muito melhor você viver numa democracia. Mas ao mesmo tempo tudo funciona então assim. A segurança, por exemplo, só pra citar um ponto que é um dos pontos fracos aqui, a quantidade de câmeras que tem nas ruas e tudo mais.

Andrea Janér:

Ninguém ousa fazer nada errado. Você não ouve falar que aconteceu nada de ruim, nada de tem assalto, tem nada. As pessoas inclusive não podem nem atravessar fora da faixa que elas recebem uma pontuação.

Fernanda Belfort:

Tem um sistema de repressão, a violência, a insegurança que é muito positivo, não dá para negar, pelo menos no Brasil. Esse tema segurança é o maior gancho da galera que de alguma forma suporta ou suportou as discussões todas do Bolsonaro contra a democracia. Sim, isso pega muito para as pessoas. Ah, melhor o exército ir lá. Então quer dizer, acho que esse é um ponto, isso pega muito para as pessoas.

Andrea Janér:

Dependendo de onde você vive, isso pega muito para as pessoas. Se você mora numa cidade hoje, como São Paulo, que está vivendo, não sei, não me lembro. Mora em São Paulo há 11 anos, 12, talvez. Eu não me lembro de uma época pior em termos de sensação de insegurança como agora.

Fernanda Belfort:

Ah, eu moro há 47 anos.

Andrea Janér:

Eu acho que, ah, sei lá, eu tenho a sensação que sempre teve Não sei, mas Eu, talvez por não ser paulistana, por não ser paulistana, talvez a gente sinta um pouco mais essa, A gente compare um pouquinho mais e eu acho que agora a gente tá num momento horroroso assim. Não me lembro de outra época em que a gente visse isso assim tanto, Mas tinha uma época que tinha muito sequestro de manhã.

Fernanda Belfort:

Sabe essas coisas de levar em caixa eletrônico? eu não sei, eu sou uma otimista, né. Então eu acho que às vezes a sensação, mas é isso é a sensação.

Andrea Janér:

O Dea e a galera saber Foi sequestrado. lembra Sumiu, não, ele desapareceu. O Jack Ma é o founder do.

Fernanda Belfort:

Alibaba E ele. Eu tava até puxando aqui as datas, mas em 2020 ele criticou os bancos chineses, quem fazia lá toda a parte regulatória financeira na China, e tudo. Aí ele desapareceu, entendeu, desapareceu, entendeu. Passou alguns anos em que ele teve pouquíssimas coisas que apareceram. Todo mundo meu o que aconteceu com o cara E ele voltou agora em 2025, entendeu, até depois desse negócio, acho que do deep seek, desse negócio de realmente ter essa parte de tecnologia tá voltando a ter relevância, mas é isso, né Assim na China, nem os caras mais poderosos e tudo podem falar alguma coisa, que eles vão por quase um exílio, assim ainda tava todo mundo meio que aconteceu com o cara, que o cara desapareceu, odea e aí. Mas dois assuntos que eu acho que seria super legal, não sei se a gente vai ter tempo pros dois, os dois tem a ver com isso.

Fernanda Belfort:

Né Um, o trial, né O julgamento, julgamento. O julgamento, Julgamento, fernanda, a gente tá tentando falar português melhor. Tá O julgamento da meta nos Estados Unidos, né. E um outro assunto que se der tempo eu queria abordar, senão a gente deixa pra semana que vem, que é esse tema sobre El Salvador, imigrantes, né E que tem tudo isso.

Fernanda Belfort:

O Míriam já tá lembrando que a gente já tem 25 minutos, então não sei se vai dar os dois.

Andrea Janér:

Só para explicar porque as nossas fontes, as nossas fontes são todas assim, tipo New York Times, financial Times, atlantic. A gente lê muito essas notícias para poder trazer E aí a gente acaba engasgando às vezes com umas palavras em inglês. A gente fica totalmente na palestra.

Fernanda Belfort:

Essa situação ridícula, né A gente fica falando Ridícula, né De ficar falando engleizado. Mas tudo bem, né, gente? Vocês suportam a gente mesmo assim, senão vocês não estariam ouvindo. Mas vamos lá. O que está acontecendo nesse julgamento da meta, o FTC, que é o órgão que regula toda essa parte de fusões, aquisições e tudo nos Estados Unidos, ele está acusando a meta de manter o monopólio por serviços de redes sociais pessoais nos Estados Unidos, principalmente depois da compra do Instagram, que aconteceu em 2012, e da compra do WhatsApp, que aconteceu em 2014, e, segundo eles, para eliminar os concorrentes, e ele está pedindo para a justiça obrigar a meta a desmembrar esses dois ativos. Obrigar a meta a desmembrar esses dois ativos. Então, o que pode estar em jogo aqui, num extremo de um processo que vai ser longo, vamos ver o que vai acontecer e tudo é talvez a obrigação de quebrar e efetivamente vender esses dois ativos. A tese que eles falam é que o Facebook hoje tem 80% desse mercado e eles consideram é que o Facebook hoje tem 80% desse mercado e eles consideram o mercado de empresas que tem como objetivo conectar amigos, família, então efetivamente ser uma rede social.

Fernanda Belfort:

Segundo eles, o TikTok e o YouTube são outros mercados, porque eles focam no consumo de conteúdo de criadores e não nessas relações pessoais, enquanto a defesa da meta é que esse mercado, da forma que ele foi definido, ele está muito restrito e ele não é desse jeito. Eles falam que eles sim concorrem com o TikTok, snapchat, youtube e num mercado muito maior, e o que o FTC fala é que essas aquisições acabaram reduzindo a concorrência. Então assim tem muito anúncio, tem menos privacidade, tem menos opções para anunciantes, para os usuários, e que no fundo a meta acaba tendo um poder muito grande de mercado. E a meta, por outro lado, defende que os consumidores ganham com isso, porque sem o capital e a infraestrutura da meta o Instagram e o WhatsApp não seriam tão grandes E na minha opinião isso é verdade, que eles cresceram muito na mão da meta e que o mais importante é o efeito final e que essas intenções que na verdade eles buscaram e parte disso foi através de todos os whistleblowers né as pessoas que informaram como que é whistleblowers, né não sei, mas as pessoas que Denunciaram, denunciaram, Denunciaram, perfeito, Mas whistleblowers é denunciantes né não tem a mesma força falar em português É muita pena falar whistleblower em português, porque perde a força, perde um pouco da força né, mas as pessoas que Delatores delatores, Delatores boa.

Fernanda Belfort:

Que saíram dessas empresas acabaram abrindo informações confidenciais e cartas, e-mails, cartas é bonito. Né Uma empresa assim e-mails e tudo isso De quais e-mails e tudo isso de quais eram as intenções deles, e eles mostram né que assim, até mensagens do próprio Mark Zuckerberg falando puxa, assim. O Instagram é muito forte, eles estão crescendo muito, eles são uma ameaça. O WhatsApp também. O melhor é a gente comprá-los, querendo dizer que tinha essa intenção. E aí, gente, assim eu não sou né eu critico com bastante facilidade o Mark, que isso fique claro né e algumas intenções da meta, mas isso é uma coisa que acontece no mundo de tecnologia. Né não é uma coisa tão diferente do que uma série de empresas, quando estão adquirindo alguém, estão adquirindo alguém ou pela sua base de usuários ou pela tecnologia que tem, né e muitas vezes acaba tendo isso. Então não podemos dizer que isso é uma coisa exclusiva. E eles agora estão ouvindo uma série de testemunhas.

Fernanda Belfort:

O Mark Zuckerberg já testemunhou. A gente já teve aí também a testemunha da Sarah Williams, que foi quem escreveu o último livro falando sobre a meta, que inclusive foi um livro que gerou bastante repercussão porque a própria meta eles avisaram só do lançamento do livro super em cima e a meta tentou bloquear toda a divulgação e conseguiu bloquear a parte da divulgação nos Estados Unidos. Isso acabou sendo a grande divulgação do livro. Mas ela também falou então ela já testemunhou. Talvez a Sheryl Sandberg, que é uma pessoa super famosa que fez carreira no Facebook, testemunhe. Então tem muita gente aí acontecendo E existem todos os bastidores políticos, né gente. Aí, quando você começa a entender o que está acontecendo hoje e o que está em jogo, não é uma grande surpresa da virada de discurso que o Mark Zuckerberg fez, falando em apoiar o Trump, em apoiar a free speech, em tirar toda essa parte de moderação de conteúdo das plataformas, porque realmente tem muita coisa em jogo.

Fernanda Belfort:

Se a meta vencer, nada muda, tudo continua do jeito que está e vai ser um sinal fraco para novas ações de desfazer fusões antigas, porque isso também é algo difícil porque essas fusões foram aprovadas na época e isso também gera uma instabilidade no mercado de tecnologia e tudo. A gente fala opa peraí. Então o que realmente está causando tudo isso É a forma ética que ele está trabalhando, é o impacto que isso tem realmente ao tamanho do mercado, e acho que são discussões bastante pertinentes. Né De qual que é o limite de poder e de bom uso ou mau uso do poder, mas talvez a gente esteja usando uma outra forma para tratar um problema. Né É tipo meio prender o Al Capone por imposto ao invés de outra coisa.

Fernanda Belfort:

E se o FTC vencer, vai ter um novo julgamento para definir qual vai ser a consequência Se vai ser a venda do Instagram e ou do WhatsApp, se vai ter restrições futuras a aquisições, se vai ter a obrigação de compartilhar dados ou APIs com concorrentes.

Fernanda Belfort:

E esse é um processo que que, sim, pode durar anos.

Fernanda Belfort:

Mas acho que tem uma coisa super importante aqui uma camada como a Dea diz que está na moda um ponto de vista interessante que além de toda a discussão da meta, que é uma discussão que a gente sempre tem, e quanto que isso é ético, não é ético, existe uma discussão toda em relação à China também, e um argumento muito grande de que se a gente enfraquece a gente não, né Se os Estados Unidos enfraquecem essas empresas americanas, eles estão abrindo um flanco maior para a presença da China ou de outras coisas.

Fernanda Belfort:

Então tem muitas coisas acontecendo, mas por outro lado, existe um ponto que assim existe um modo operante hoje de que muitas startups e muitas empresas acabam crescendo sonhando com o exit.

Fernanda Belfort:

E aqui eu vou falar em inglês mesmo porque é o jeito que fala, porque o mercado fala no Brasil, mas com uma venda para uma big tech, e isso é uma coisa que acontece com frequência e as big techs com frequência saem comprando empresas menores que estão crescendo e ganham uma relevância grande. Então assim isso seria, por exemplo, a Adobe comprar o Canva para não concorrer com o Photoshop. Mas essa é uma prática que muitas vezes acontece no mercado e tem muita coisa no passado que aconteceu desse jeito. Então de repente existia até essa ideia de que retroativamente, coisas que foram aprovadas podem ser desfeitas. É algo interessante, mas que também muitas vezes aconteceram processos de falar puxa, assim. Sei lá, a Microsoft está usando o poder econômico para colocar o Internet Explorer como o principal browser no mundo. Muitos processos já aconteceram assim no passado e eu acho que sim, está um problema, mas eu acho que tem vários pontos que vão ser discutidos aí nos próximos meses.

Andrea Janér:

Dea, o seu ponto de vista vai pula aí, é eu acho que você já fez uma brilhante análise aí e os detalhes todos que você reuniu para falar. Eu acho que não tenho nada a acrescentar a isso. O meu único ponto é que eu acho que se a gente fizer um passo atrás aqui e olhar essa situação de cima, fazer o famoso zoom alto aqui, a gente começa a entender que o cerco está se fechando as redes. Eu acho que a gente está vivendo já tem algum tempo o momento em que as redes sociais estão em cheque. Então você começa a ver o que aconteceu com o TikTok e que está se arrastando por conta de todas essas negociações que o próprio Trump está fazendo com a China.

Fernanda Belfort:

The Art of the Deal. The Art of the Deal. The Art of the Deal. Não aguentei segura a piada. Hashtag The Art of the Deal.

Andrea Janér:

Melhor meme que eu vi essa semana sobre isso foi assim o Trump num quarto de menina, assim rosinha, deitado, assim na cama olhando pro celular, esperando, e aí no fundo, assim uma foto do Xi Jinping na parede, tipo assim esperando o Xi Jinping ligar. Tipo quando a menina?

Fernanda Belfort:

está esperando o menino ligar, será que ele vai ligar Meu?

Andrea Janér:

Deus Enfim. Então acho que o Trump também tentou, está tentando usar essa história do TikTok como talvez uma moeda de troca em alguma negociação aí tarifária. Mas o fato é que desde a administração do Biden, quando houve esse, quando o TikTok foi colocado contra a parede tanto pela questão da espionagem da China como a questão dos dados, eu acho que desde esse momento a gente começou a olhar para as redes de uma forma diferente. Tudo que está acontecendo com o X, esse questionamento do X, como esse ambiente altamente tóxico, e agora essa, essa pressão sobre o Zuckerberg. Não é a primeira vez que ele testemunha no congresso. Ele já foi lá. Jeffrey Gays do congresso americano, em várias circunstâncias ele já foi lá, ele é muito bem treinado, ele se sai bem nessas hearings, nessas audiências, e eu acho que isso é parte de um momento maior, de um momentum em que a gente está passando a entender e questionar o papel das redes sociais na nossa vida, na sociedade, na forma como a gente se organiza. Eu acho que essa ficha tá caindo, basicamente, né.

Fernanda Belfort:

E eu acho que também assim a importância é a ética. Né Déa, porque você vira, tá todo mundo. Né Eu recebi em vários grupos assim ai, olha que legal, agora o Instagram tem controle parental para conta de adolescente. Juro por Deus.

Andrea Janér:

Déa, eu olho e falo nossa, os caras só estão 10 anos atrasados. Nisso né já podiam ter feito até o.

Fernanda Belfort:

TikTok, que é uma empresa chinesa, já tem isso há muito mais tempo, então eu acho que também tem um certo, uma certa segurança de que eles podem fazer o que eles querem e que, se dane no mínimo, eles têm que ter medo porque eles não vão ser mais responsáveis. Já demonstraram que não vão ser mais responsáveis simplesmente pelos valores pessoais deles.

Andrea Janér:

Exato, acho que a gente passou muitos anos esperando que as empresas, que as redes sociais se autorregulassem. E os Estados Unidos? a gente já falou isso algumas vezes aqui no Duplo Clique. Os Estados Unidos, culturalmente, é um país que preserva a inovação por meio de uma regulação tímida, digamos assim. Eles gostam de ser um país com regulação, com pouca regulação, porque eles acreditam que isso é o que fomenta a inovação. Eles sempre se opõem à União Europeia, por exemplo, que é um ambiente altamente regulado. A tecnologia é altamente regulada e eles alegam que a União Europeia não avançou tanto, não é tão inovadora, não é um ambiente tão inovador quanto os Estados Unidos. Então existe uma, uma, uma defesa histórica de pouca regulação, principalmente no Silicon Valley, ali no Vale do Silício, para preservar essas iniciativas de avanço como foram as redes sociais. Então elas ficaram sem regulação a vida inteira. Ninguém nunca conseguiu regular as redes sociais nos Estados Unidos. Esses caras deitaram e rolaram o tempo que eles fizeram.

Fernanda Belfort:

Com consequências enormes.

Andrea Janér:

E sempre o público, a imprensa, a mídia, sempre cobrando do governo uma regulação, uma mão mais forte. O governo não sabia nem por onde começar, porque quando eles se deram conta, elas já estavam gigantes. E elas têm tentáculos em Washington.

Andrea Janér:

Tentáculos é muito bom né Exato É tentáculos em Washington, onde eles realmente têm uma turma grande lá fazendo enfim advocacy e tudo mais pra poder permitir que elas continuem crescendo como estão. E aí a técnica, a estratégia de autorregulação não chegou ali. Ninguém fez nada. Tem um ou outro, uma iniciativa ou outra que elas fazem depois que acontece alguma coisa. Por exemplo, recentemente começou todo mundo a me mandar a história do do Instagram for Teenagers, que era um programa que é esse negócio que eu comentei?

Andrea Janér:

é exato que assim, no fundo, isso aconteceu em outubro. Foi lançado em outubro quando as discussões sobre geração ansiosa atingiram um pico, ou seja quando ali o Jonathan Haidt estava super em alta falando em vários fóruns e tudo mais sobre o problema da ansiosidade. Tá aí, o Instagram faz uma série de medidas ali, lança um pacote de medidas para poder enfim parecer que ele está compliant, que ele está em acordo, está alinhado com esse clamor popular por enfim evitar que os adolescentes fiquem tanto tempo nas telas, que tenham acesso a conteúdos que não são pra eles. Enfim uma série de medidas ali que ele tomou. Como diz em inglês eu vou ter que usar agora um ditado que a gente ouve muito, que é o too little, too late. Fez pouco e fez tarde. Não chegou a fazer a diferença.

Andrea Janér:

Então, agora que a gente tem uma legião de jovens e de adultos também viciados nas redes sociais, é muito difícil você reverter esse hábito. O esforço, a energia que a gente vai despender para isso é muito maior. Esse sistema, que foi criado pelas redes, de monetizar os dados dos usuários está aí sustentando toda uma indústria de anúncios, a indústria de bens de consumo. Está todo mundo apoiado nesse modelo que foi desenvolvido e foi perenizado pelas redes. Então agora é super difícil mudar, mas por isso que o Mark Zuckerberg, por exemplo, estava lá com sua mulher, priscila, na posse do Trump, por isso que eles estavam lá, foi só por isso que esses caras todos foram lá Jeff Bezos, elon Musk, todos eles estavam presentes porque eles têm interesses muito próximos do governo. O Tim Cook já conseguiu? né O Tim Cook pelo menos já conseguiu, né O Tim Cook pelo menos já conseguiu o relief aí nas tarifas do iPhone.

Fernanda Belfort:

Né Já valeu ter ido, já valeu ter ido. Eita gente, deu um problema aqui na minha câmera. Mudei de ângulo para quem está vendo a gente no YouTube. Mas seguimos, déa. Vamos para o nosso último assunto aí do Duplo Clique de hoje, que é esse tema todo das imigrações e de El Salvador. Eu li um artigo super interessante porque, honestamente, el Salvador não é um país que eu acompanho de perto, mas eu li um artigo no The Atlantic falando um pouco sobre esse estado de exceção que acontece em El Salvador e que na verdade, isso acontece porque existiram décadas de domínio das quadrilhas que eram a MS-13 e Barrio 18, que deixaram a população super refém do medo. Em março de 22, teve um final de semana que tiveram 87 homicídios que foram atribuídos a essas gangues e o presidente, o Naíbe Bukele, declarou um estado de exceção. Esse estado de exceção, que era para durar um pequeno período, está até hoje. E o que eles fizeram? Eles adotaram medidas extremas de colocar polícia, exército na rua, podendo deter suspeitos sem apresentar nenhuma acusação formal, nenhuma explicação de direitos, acesso a advogado, nada e colocar essas pessoas na prisão. Mais de 100 mil pessoas foram presas nesses três anos E, por outro lado, o país passou a ter a maior taxa de encarceramento do mundo, porém também despencou o número de homicídios, a ponto do índice se igualar ao Canadá. Eu, fernanda, tenho um pouco de dúvida desses índices, também desses países que não têm transparência, que você não sabe quanto eles mentem ou não mentem, mas anyway, esse é o número. E assim, liberdade para circular à noite, queda de extorsões, tudo isso faz com que 80% dos entrevistados lá da população aprove o regime, mesmo tendo só 30% aceitando que tudo bem ter prisão sem ordem judicial E aí o que acontece, obviamente tem mil problemas de violação de direitos humanos. Do que acontece nessas prisões, então tem N problemas de todos os tipos que vocês podem imaginar. Mas a verdade é essa, esse estado de exceção, que era para durar 60 dias, está até hoje. O Bukele se reelegeu em 2024, contrariando a proibição de reeleição consecutiva E obviamente opositores, jornalistas que foram contra o regime foram presos. E essa estratégia de comunicação de mistura de influencer, galã de telenovela e tal faz um mix de apoio da população, faz um mix de apoio da população. Então existe um sistema lá que é um modelo de ditadura. E muito o que você estava falando, a ideia de quando você fala de segurança e quanto que essa insegurança extrema acaba sendo o motivo para tudo isso.

Fernanda Belfort:

Mas no meio disso tudo, imagina que o Trump está pegando, está procurando esses imigrantes e fazendo meio que a mesma coisa. Ele está pegando imigrantes e um imigrante em especial que chama Ábrego Garcia. Ele está preso em El Salvador e ele está virando um ícone desse problema todo dos imigrantes nos Estados Unidos. E o que o Trump está fazendo com a deportação. Ele entrou nos Estados Unidos de forma irregular em 2010.

Fernanda Belfort:

Em 2019, ele recebeu uma proteção legal contra a deportação por correr risco de perseguição por gangues no seu país de origem. Ele vivia em Maryland com a esposa dele, que é uma cidadã norte-americana, e um filho, e ele foi deportado já 15 de março de 2025, com mais 200 outros migrantes que o governo alegava ter ligação com gangues. E assim o governo já admitiu que foi um erro a prisão dele, apesar de ter gente falando que não. A Carolyn Leavitt, que é a secretária de imprensa da Casa Branca, falando que sim, ele tinha vínculos com gangues, mas assim eles já falaram que foi um erro e essa discussão toda foi para o judiciário. A justiça americana mandou os Estados Unidos facilitar a volta dele E o presidente salvadorenho falou que não, que eles não teriam autoridade, e é isso. E essa semana um senador norte-americano, o Chris Van Hollen, foi para o Salvador querendo encontrar o Álvaro Garcia na prisão.

Fernanda Belfort:

Parece que esse encontro não aconteceu, pelo menos até agora, na gravação desse podcast. Mas isso está virando um símbolo muito grande não só dessas políticas e desse abuso em que você não tem nenhum direito e de repente podem te colocar num avião, te mandarem para o seu país de origem ou para El Salvador, para uma situação em que você não vai ter acesso a nenhum tipo de defesa jurídica e esse erro não tem volta. É isso né. Ah, que pena, collateral damage. E na verdade é uma pessoa como. Isso também está sendo símbolo dessa briga entre o que o governo Trump pode fazer, o que judicialmente está sendo questionado, e o quanto o governo está apeitando as decisões judiciais e realmente ignorando os três poderes rule of law, o estado de direito e tudo isso e fazendo o que quer.

Andrea Janér:

É, eu acho que isso também vem dentro desse pacote, também, fazendo um zoom alto aqui de criar esse clima de pânico, de medo, de insegurança entre pessoas que moram ou que viajam para os Estados Unidos com todos os seus documentos em ordem. A gente não está falando aqui de imigrantes ilegais. A gente não está falando de quem está tentando ficar escondido nos Estados Unidos. A gente está falando de pessoas que têm seus documentos em dia. E eu tenho ouvido cada vez mais eu falei no episódio passado sobre a questão dos alunos internacionais que alguns estão tendo seus vistos revogados sem nenhuma explicação plausível, e eu tenho ouvido agora de pessoas que estão tendo seus vistos negados antes de ir para os Estados Unidos.

Andrea Janér:

Eu soube ontem de uma jornalista que estava indo fazer uma cobertura de um evento nos Estados Unidos e teve o seu negado também. Então são coisas estranhas, porque aparentemente são pessoas que não têm nenhuma ligação com o que ele alega estar perseguindo, né Quer dizer essa questão dos protestos, das opiniões políticas, mas o que está por trás disso, né Por que agora virou uma gincana viajar para os Estados Unidos. Eu vou viajar daqui a três semanas para os Estados Unidos para a formatura da minha filha. Eu já começo a me perguntar será que eu será que ele escuta que a gente brincou, né será que eles vão ouvir o nosso podcast. Vão ver que a gente está criticando o Trump, que ele foi colocado numa lista.

Fernanda Belfort:

Numa lista aqui de um hotel no TikTok é muito é muito assustador que isso esteja acontecendo.

Andrea Janér:

Então, as pessoas você veja, uma jornalista brasileira que ia cobrir um evento nos Estados Unidos para um jornal brasileiro não pode teve seu visto negado. Será que é porque ela é jornalista? será que existe uma, talvez uma lista ali de profissões ou de perfis que não são bem-vindos nos Estados Unidos e a partir disso vai criar a gente, vai começar a ouvir mais isso, isso daqui a pouco vai ficar mais comum e aí se cria esse clima de medo para poder viajar para lá. A gente já está vendo muito essa questão da hostilidade com turistas. Já estão saindo várias matérias em jornais americanos, jornais europeus, falando sobre europeus, falando sobre europeus que também estão sendo barrados, também estão sendo levados para a salinha, também não estão recebendo seus vistos.

Fernanda Belfort:

Então isso está virando uma coisa importante E eu acho que claro que existe isso, mas tem uma coisa de que esse conceito do sonho americano de quero ir para os Estados Unidos e dos Estados Unidos comoito, do sonho americano, de quero ir para os Estados Unidos e dos Estados Unidos como o grande sonho e consequentemente o influenciador cultural e tudo no mundo vai mudando. Assim, cara uma pessoa que de repente eu conheço gente que foi para os Estados Unidos não tinha visto e ficou lá até conseguir sair o green card não podia voltar. Acho que não passa mais pela cabeça alguém fazer uma coisa dessas hoje em dia, com os riscos que existem.

Fernanda Belfort:

E aí o seu objetivo dele foi atingido então, né É exato, acho que foi, né Eu acho que hoje meu não me passa pela cabeça alguém com consciência, com as informações todas que tem hoje, fazer um passo desses. Né E também esse lance todo de que assim, se o objetivo é trazer a indústria de volta, será que mão de obra barata, porque não é o americano que quer ficar lá apertando o mini parafuso do iPhone que a gente estava brincando, não é um ponto necessário. Quem vai reconstruir Los Angeles? Quem vai? Qual é o papel desses imigrantes? Quem que eles vão tirar? Então acho que tem muitas coisas aí nesse conceito E aquela coisa eu acho que faz todo sentido e todos os americanos concordam de que o objetivo não é ter o cara criminoso como imigrante lá.

Fernanda Belfort:

Eu acho que esse cara tem que ser deportado, mesmo se ele é criminoso, na minha opinião pessoal, só que precisa ter evidências, precisa ter lei, precisa ter direitos, precisa ter tudo isso. Não dá pra usar um estado de emergência pra pegar quem é tatuado, porque eles assumem que o cara que é tatuado tá numa gangue, tá cá num avião, beijo, e depois descobre que cometeu um erro, que era um cara que tava lá legalmente, que era casado com uma americana e tudo isso, e fala agora não tem jeito, porque o cara já foi jogado numa prisão e esquecido lá né, sim, isso é uma coisa extrema e eu acho que isso tá gerando essa repercussão porque precisa realmente, porque precisa realmente é uma violação de direitos humanos.

Andrea Janér:

Isso coloca os Estados Unidos realmente numa situação muito delicada perante a comunidade internacional. Mas eu acho que a gente está entrando. Eu acho que isso, sem dúvida, é um dado super importante, mas só lembrando aqui que casos isolados, menos menos emblemáticos, estão acontecendo todos os dias com turistas, pessoas que estão tentando entrar nos Estados Unidos. Então assim, por exemplo, em março de 2025, já teve uma redução de 17% na chegada de visitantes europeus. Em comparação ao ano anterior, reserva de hotel de europeus nos Estados Unidos para o verão já caíram 25%. Ou seja, as pessoas estão ou com raiva, com raiva de tudo o que está acontecendo, ou medo mesmo de passar por algum constrangimento, algum constrangimento na entrada nos Estados Unidos. Mesmo Alemanha, reino Unido, china são alguns dos países que emitiram alertas a seus cidadãos sobre o risco de viajar aos Estados Unidos. E aí a gente volta depois pras pessoas, como eu mencionei no último podcast, que os estudantes continuam recebendo avisos das suas universidades.

Andrea Janér:

Então existe realmente um clima de insegurança um ambiente de insegurança nos Estados Unidos que se por um lado era o que o Trump queria criar, tipo ah, não quero que ninguém venha pra cá se não tiver dinheiro pra gastar ou for fazer o trabalho.

Fernanda Belfort:

Quanto é o Golden Visa? Quantos milhões de dólares Exato, 5 milhões de dólares, o Golden Visa.

Andrea Janér:

Então assim ele tá indo além disso, porque de novo ele está jogando a água do banho com o bebê junto? Porque a maneira que ele criou de coibir, de desestimular essa imigração desse cidadão que ele não deseja ter nos Estados Unidos, ele está impedindo que um monte de gente bacana vá para lá Vai ter uma queda na economia, no turismo americano. Isso vai ter impactos, gente, Essas medidas que a gente está vendo agora vão ter impactos tão grandes nos.

Fernanda Belfort:

Estados Unidos como um todo E tem americanos. Eu li uma notícia em algum lugar agora não vou saber se está na fonte, minha memória falhou aqui mas de que está tipo um recorde de americanos pedindo cidadania em países europeus, que tem direito ter dois passaportes, o que pra gente já é uma coisa que a gente sabe, que é um benefício, algo que a gente de repente vai dar mais possibilidades pros filhos, e tudo isso tá virando um tema pros americanos que não era. E tem um monte de americano que está avaliando e assim PHDs, cientistas e tudo isso que estão avaliando oportunidades de trabalhar em universidades europeias, de ir para outros países, de irem expatriados para outros lugares. Então quer dizer tem N pontos aqui interessantes e que voltam para aquele tema, até do Ezra Klein de ok, qual que é o objetivo.

Andrea Janér:

Inclusive agora, com os cortes das verbas para as universidades. Talvez esses professores tenham que procurar emprego em outras universidades.

Fernanda Belfort:

Em outros lugares né.

Andrea Janér:

Porque muitos programas, muitas pesquisas vão perder seu financiamento e vão ser simplesmente encerrados. Gente, nós vivemos isso aqui no Brasil. Quando o Bolsonaro entrou no governo, eu lembro que ele cortou várias verbas de pesquisa e a gente teve cientistas brasileiros de renome internacional inclusive foram muito vocais naquele momento dizendo a gente tem que ir embora do Brasil, não tem dinheiro para pesquisa mais. Então eu acho que sim, existem excessos que precisam ser corrigidos, existe verba que nunca vai ter algum retorno. Acho que sim, aqui não é uma questão de Não estou defendendo que isso seja feito, que essas verbas tenham um destino quase que restrito. Acho que precisa fiscalização, precisa métrica, precisa tudo isso, mas não dá para jogar água do banho com o BP junto e só para a gente fechar. Eu acho que você está falando dos Estados Unidos ser questionado como um destino para uma pessoa que está indo morar, fazer pesquisa, um professor, um pensador, algo assim. E a gente nem entrou aqui num assunto super importante que eu acho que a gente tem que deixar para o próximo do Proclit.

Fernanda Belfort:

Boa, vamos terminar com um gancho para os próximos Questionamento do dólar como a grande moeda do mundo Exato esse também é um tema dessa semana e as implicações que isso tem.

Andrea Janér:

Sim, porque isso tem a ver com o branding que a gente já falou, tem a ver com bonds, que é uma coisa mais complexa que um, mas que a gente comentou semana passada, até da relação de que a bolsa tinha caído e os juros também tinham subido dos bonds.

Fernanda Belfort:

Então, quer dizer, era uma coisa nova que os Estados Unidos não tinham vivido antes.

Andrea Janér:

E essa crise que está acontecendo agora levantando super dúvidas se os Estados Unidos vão honrar os seus pagamentos, então assim, eu acho que isso é um assunto super forte pra gente falar que tem a ver com todo esse pacote aqui. E eu só queria, antes de fechar, fazer uma correção de uma data errada que eu falei aqui sobre a invasão do Hamas a Israel. Eu falei que foi 21,. Foi 23,.

Fernanda Belfort:

Então perdão aí pelo meu engano aqui, meu erro, dea, você é um ser humano, você erra datas. Gente, vocês estão mais aliviados porque a memória dessa mulher é uma loucura. Então tá, a gente vai terminar com esse relento, com essa informação de que a Dea é um ser humano, que não tem todas as datas perfeitas na cabeça, e com essa palavra de alento pro resto do mundo. A gente encerra o nosso Duplo Clique e a gente se vê semana que vem um beijo turma.

Andrea Janér:

Boa semana, boa Páscoa pra todos fiquem com uma boa Páscoa bom coelho pra todos. Muitos chocolatinhos pra todos. Obrigada, mig, até semana que vem, beijo pessoal tchau.

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